A embalagem de seu produto está comunicando seus diferenciais?
“Olá, sou leitor assíduo da revista VendaMais e utilizo muitas ideias destas maravilhosas páginas informativas e instrutivas. Meu produto é carvão para uso doméstico. Considero minhas embalagens atrativas, porém sempre achei que elas precisavam de algo mais para mostrar ao consumidor que nosso carvão é um produto diferenciado, por exemplo: só trabalhamos com carvão oriundo de florestas plantadas e autorizadas para o desmate, nossos empregados trabalham todos com carteira assinada e recebem vale-transporte e vale-refeição da empresa. Nosso produto é selecionado, peneirado e acondicionado em embalagens atrativas e seguras, além de ser 100% ecológico. Como posso melhorar a apresentação de minhas embalagens?”.
Antes de continuar a ler esta seção, faça um exercício: observe a embalagem do carvão de Pereira, por aproximadamente um minuto, procurando pensar o que você faria diferente. Depois, confira os comentários feitos por três especialistas da área. Por fim, questione-se: “Será que minha embalagem tem comunicado e atraído corretamente o mercado? O que ela poderia ter de diferente?”.
Opinião dos especialistas
“Olá, José. A primeira sugestão é deixar mais claro ao consumidor as características ecológicas de seu produto. Elas devem ter destaque na embalagem. Pelo que você falou, esse é o principal fator de diferenciação da concorrência. Essas características ainda podem ser exaltadas com a mudança de cores da embalagem. Numa análise prévia, posso indicar o verde para representar o ecológico. Também pode-se usar o minimalismo, explorando melhor a própria cor do papel craft, que reflete um respeito maior à natureza por meio de uma área de impressão melhor aproveitada. Claro, isso seria uma mudança mais radical. Se não for bem trabalhada, pode afetar negativamente a marca ou a percepção do público já habituado com a embalagem atual. Vale um estudo mais profundo.
Outro item observado são os elementos gráficos. Nota-se uma sobreposição da logo com uma espécie de cruz. Uma dica importante é reservar uma área sem interferência para a marca. Assim, o consumidor gravará melhor o carvão que está escolhendo e, com certeza, irá se lembrar dele numa futura compra. Mas, para tudo isso funcionar de forma efetiva, é necessário um estudo de como essa embalagem funciona no ponto de venda. O ideal é criar uma política de normas a serem seguidas pelos varejistas na hora de expor o produto, explicando como ele deve se apresentar ao consumidor e qual o arranjo e a quantidade de embalagens que melhor explora a visibilidade para obter um melhor retorno. Cabe também propor displays em áreas estratégicas, criando oportunidades de cross merchandising com outros produtos, como nas áreas de açougue. Acredito que assim você possa ter ainda mais sucesso com seu carvão.”
Rodrigo Lino
Head designer da Art Office Design
“Após conhecer a embalagem de carvão do senhor José, apontaríamos alguns pontos em que ele deveria se basear, iniciando pela construção de uma marca que tem de ser forte. Esse é um investimento que se torna pequeno quando pensamos que sua marca deverá se fixar por muitos anos no mercado, aplicando-a em todos os painéis de leitura de sua embalagem quando colocados no ponto de venda.
Atender pontos obrigatórios pelo Inmetro, ser mais direto nas informações adicionais e cuidar para não colocar textos com fontes que poderão se tornar ilegíveis para determinados consumidores. Cuidar também das cores que serão aplicadas e servirão como ponto de referência para futuras recompras de seu produto a fim de fidelizar a venda, utilizar e aproveitar ao máximo a tecnologia que será empregada em sua fabricação, facilitando seu rompimento e garantindo sua qualidade até o momento da utilização.
Atualmente, a embalagem no Brasil é responsável por mais de 83% das vendas, e mais de 90% delas não possuem apoio de marketing. Portanto, é um local ideal para fazer todas as estratégias de vendas da empresa. Mas tudo isso com consenso para não poluir, sabendo que as pessoas procuram ler somente o necessário.”
Fonte: Índices Fabio Mestriner 2007
Alcides de Oliveira Machado
Direção de arte da Zune Design e Comunicação
“A embalagem é festiva. Sem dúvida, é diferente do que a gente está acostumado a ver. Mas ela é muito poluída, tem muita informação para passar ao consumidor. Utilizar ícones, por exemplo, é uma forma de comunicar, de uma maneira mais limpa, essas informações. Onde há: ‘Preserve as matas e o cerrado brasileiro’, poderia haver um selo. E aí temos ‘Qualidade extra’, ‘15 anos’, ‘O melhor carvão para o seu churrasco’, código de barras e peso líquido tudo na parte da frente da embalagem. Dessa forma, o consumidor não vai conseguir absorver todas as informações. É a teoria da laranja: se eu jogar uma, você pega; mas, se eu jogar dez, você não vai pegar nenhuma. Além disso, se falamos em desenvolvimento ecológico, acho que o preto não é uma cor para usar. O amarelo e o verde são mais alegres e poderiam se transformar em um diferencial, porque não estamos acostumados a ver carvão com cores alegres. A embalagem é diferente da maioria (ponto para ele), mas ela é muito carregada de informações. O preto é a cor do carvão, porém, quando você pensa em: ‘O melhor carvão para o seu churrasco’, ‘Qualidade extra’ ou ‘Preservar as matas e o cerrado brasileiro’, dificilmente imagina a cor preta. Por isso, eu colocaria uma cor mais viva, mais bacana.
Eu deixaria o ‘Preserve as matas e o cerrado brasileiro’, mas de outra forma. Deixaria também ‘O melhor carvão para o seu churrasco’, pois esse é o conceito dele, porém me questionaria: ‘Por que é o melhor carvão para churrasco?’. O consumidor precisa muito mais de uma justificativa que de uma afirmação em casos como esse. Ele pode grampear umflyer ali e explicar por que ele é melhor, o que é a qualidade extra e o que é preservar as matas e o cerrado. Ele pode reclamar, dizer que as pessoas não vão ler, mas quem ler vai entender. E são essas pessoas que leem que ele pode fidelizar daqui para frente. Também não vi um site sendo divulgado, e isso é uma coisa interessante para ser desenvolvida. Lá, ele poderá conversar com as pessoas, contar histórias. O marketing nada mais é que contar a história das empresas para que as pessoas percebam, de uma maneira uniforme, o que essas empresas querem, para que servem e o que estão falando.”
Fhabyo Matesick
Jornalista, publicitário e sócio-diretor da TIF Comunicação