Mudanças, resistĂȘncias e os nossos medos

HĂĄ algum tempo podĂ­amos fugir, dar uma volta maior, evitar alguns caminhos. Hoje nĂŁo. SĂł temos um caminho. NĂŁo hĂĄ como evitar. Precisamos aprender a passar por ele sem fugir, sem correr, precisamos, ao invĂ©s de enfrentar nossos medos, entende-los. Agora Ă© ou vai ou…Vai. Nasci e fui criado num bairro de classe mĂ©dia em SĂŁo Paulo, chamado Bela Vista, conhecido por Bixiga. Descendente de italianos, minha mĂŁe mantinha a tradição de comermos, na hora do lanche de alguns dias da semana – o redondo pĂŁo italiano. Pedia-me para compra-lo numa padaria que ficava no mesmo bairro a uns quinze minutos de distĂąncia de casa. No meio da tarde eu saia por volta das 14h45min, pois a fornada da tarde acontecia Ă s15 horas.

Naquela Ă©poca cada rua tinha uma turma, que defendia seu territĂłrio com determinação. Quando alguĂ©m de uma rua prĂłxima ousava passar sozinho na nossa, a turma se reunia e o infeliz levava alguns cascudos. Havia uma grande rivalidade entre as turmas. Especialmente em duas ruas paralelas daquele bairro – A Rua Rocha, onde eu morava, e a Rua Almirante Marques LeĂŁo.

A regra era muito simples: se alguĂ©m passasse na rua do “inimigo” apanhava. Se ficasse olhando ou encarando apanhava por que era folgado, se nĂŁo olhasse ou corresse, apanhava por estar com medo. Infelizmente, a Rua Marques LeĂŁo era o caminho mais rĂĄpido para a padaria.

Eu sempre dava um jeito de dar uma volta para nĂŁo passar naquela rua e Ă  minha mĂŁe explicava que os 10 a 20 minutos a mais que demorava em chegar, eram por conta da fila dos que iam comprar o pĂŁo, o padeiro atrasou, enfim, como vocĂȘs podem observar tinha sempre uma desculpa para nĂŁo contar a verdade. Eu nĂŁo queria era apanhar da turma da Marques LeĂŁo.

Faço hoje um paralelo com relação Ă s mudanças que estĂŁo acontecendo. HĂĄ algum tempo podĂ­amos fugir, dar uma volta maior, evitar alguns caminhos. Hoje nĂŁo. SĂł temos um caminho. NĂŁo hĂĄ como evitar. Precisamos aprender a passar por ele sem apanhar, sem fugir, sem correr, precisamos, ao invĂ©s de enfrentar nossos medos, entende-los. Agora Ă© ou vai ou…Vai.

É fundamental que possamos ser os lĂ­deres das mudanças. NĂŁo dĂĄ mais para fingir que nĂŁo estĂĄ acontecendo. NĂŁo podemos continuar tentando dar uma nova forma para atingir os mesmos resultados. É preciso trabalhar para novos resultados. Enxergar, construir novos conteĂșdos. Escrever uma nova histĂłria.

Com certeza os nossos medos virĂŁo e precisaremos ficar frente a frente com eles. Trata-los como oportunidade de crescimento.

O que Ă© esse medo? É medo do futuro, disseram-me algumas das muitas pessoas que tenho ouvido durante os seminĂĄrios, eventos e workshops que tenho realizado pelo Brasil.

Se, como disse John Kotter, a Ășnica certeza que temos do futuro Ă© um talvez, como podemos ter medo de algo que ainda estĂĄ por acontecer?.

A resposta a essas questÔes não pode e nem deve ser complexa. Peço que me acompanhem no raciocínio a seguir. Temos medo de algo que desconhecemos. Sentir medo por algo que não temos certeza é relacionar algo de ruim que aconteceu no passado como uma promessa de que irå se repetir no futuro. Voltamos a ter os mesmos sentimentos e emoçÔes negativas dos fatos anteriores. O medo é de isso volte a se repetir. Algumas mudanças que ocorreram em nossa vida não foram bem sucedidas ou não foram o sucesso que queríamos. Nada aprendemos com elas. Outras, entretanto, com certeza foram um sucesso. Não existe ninguém que só tenha mudanças desastrosas na vida. Se existisse não estaria sequer lendo este texto.

Se temos a capacidade de relacionar nosso futuro com um passado negativo, temos a mesma capacidade de relaciona-lo com os aspectos positivos das inĂșmeras mudanças que jĂĄ ocorreram na nossa vida. Mais ainda, elas continuam acontecendo e continuarĂŁo atĂ© o nosso Ășltimo dia.

Temos medo por sermos ignorantes. Por não sabermos o que fazer com o que irå acontecer. Quando sabemos o que fazer o medo desaparece. Se não conseguimos aprender com os erros e as situaçÔes passadas, continuamos a ter medo. O medo é produto da nossa ignorùncia e da nossa incapacidade de aprender com as situaçÔes. Se não sabemos, elas acontecerão de novo, de novo, e de novo.

Quando aprendemos algo com as mudanças temos sensaçÔes e emoçÔes de prazer e de conquista. Nessa hora nĂŁo paramos para entender “o como fizemos” para alcançar os resultados. Cometemos uma falta por nĂŁo realizarmos um estudo, se quiserem um diagnostico, claro e objetivo de tudo que aconteceu e de cada coisa que aprendemos.

Isso Ă© dizer que toda mudança tem um equilĂ­brio frĂĄgil de razĂŁo e emoção. É nesse equilĂ­brio que os lideres das mudanças investem seu tempo, sua sensaçÔes, seu comprometimento e sua coragem. NĂŁo tem medo daquilo que conhecem e constroem uma visĂŁo de futuro sempre positiva e cheia de sucesso. Caso contrĂĄrio quem acreditaria neles? Nem eles mesmos.

Então os líderes não tem medo? Tem, mas na medida certa para uma defesa do desconhecimento e da ignorùncia. Um líder vai descobrir o que não sabe e o que precisa aprender para enfrentar seus medos ao invés de ser paralisado por eles. A fonte do conhecimento é o eterno questionamento: o que falta para que eu saiba o que fazer, como fazer e para que fazer.

Observando como fazem os líderes podemos tirar como aprendizado algumas estratégias que são usadas:

– Toda mudança Ă© urgente, portanto o novo saber e o aprender tambĂ©m. NĂŁo deixe para amanhĂŁ o que jĂĄ devia ser feito hĂĄ 10 anos.
– Tenha em mente que vocĂȘ estĂĄ construindo uma nova histĂłria, portanto, quebre paradigmas, passe por cima do “status quo”, ouse, invente, faça diferente.
– NĂŁo seja um gerente da mudança, seja um lĂ­der de profundas transformaçÔes.
– NinguĂ©m enfrenta sozinho grandes mudanças, procure parcerias e forme times que o ajudarĂŁo na liderança.
– Saiba construir uma visĂŁo poderosa e positiva da mudança, enriqueça com todas as boas emoçÔes que ela deve ter.
– Aprenda a comunicar com clareza e precisĂŁo a visĂŁo da mudança. NĂŁo engane, nĂŁo minta. Lembre-se que uma visĂŁo tem que ser, segundo Kotter: imaginĂĄvel, desejĂĄvel, viĂĄvel, compacta, flexĂ­vel e comunicĂĄvel.
– Divida os grandes objetivos e resultados em pequenos objetivos. Ficam mais claros para todos entenderem, inclusive vocĂȘ.
– A cada pequeno resultado alcançado comemore intensamente a vitĂłria. Pequenas vitĂłrias dĂŁo energia e fĂŽlego para a vitĂłria maior.
– NĂŁo comemore antes do tempo. Aprenda a verificar se o resultado Ă© aquele mesmo que pretendia. NĂŁo se engane e nĂŁo se deixe enganar.
– Ouça, observe, analise os sinais e mude suas estratĂ©gias se for o caso.Seja flexĂ­vel. Busque estratĂ©gias sempre inovadoras.
– Coloque na nova cultura os aprendizados que vocĂȘ teve. Crie uma cultura de aprender a aprender. Na organização deixe marcas na nova cultura.

Não são os processos apenas que devem mudar, são os resultados. A ousadia e a coragem do líder da mudança não estå em se atirar de cabeça na primeira idéia, mas em analisa-las à luz da razão e da emoção.

Liderar nas mudanças afinal Ă© tĂŁo simples quanto caminhar, sonhar e sentir. Lembre-se que para aprender a ler vocĂȘ teve que realizar uma grande mudança na sua vida. AtĂ© aqui deu certo. Portanto reflita e acrescente a este texto novas idĂ©ias, novas estratĂ©gias. Seja em primeiro lugar o lĂ­der das suas prĂłprias mudanças. Se emocione com elas. Assim vocĂȘ serĂĄ capaz de emocionar outras pessoas.

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