Não apresse o tempo

Aprenda a ter paciência sempre que ela for necessária para atingir seus objetivos

Parece absurdo falar em paciência nos tempos de hoje, afinal, vivemos em uma era na qual tudo acontece e muda muito rápido. Fazemos viagens longas em poucas horas, comunicamo-nos com pessoas distantes em questões de segundos, recebemos notícias do mundo todo em tempo real, etc. A tecnologia evolui tão rápido que a todo momento surgem novidades que mudam nossas vidas. Você pode perguntar: “E o que há de ruim nisso?”. É claro que temos vários benefícios com toda essa rapidez, mas o problema é que ficamos tão acostumados com o ritmo acelerado que não sabemos mais esperar. E isso sim é ruim e pode nos fazer mal.

Você já observou como fica estressado quando o elevador demora a chegar? Já ficou extremamente irritado porque aquele seu colega demora até para falar? Ou, por acaso, já se pegou pensando que está sempre com tanta pressa que nem vivencia de verdade tudo o que faz? Esses são exemplos de como temos vivido cada vez mais de maneira acelerada e como desaprendemos a ter paciência. Como explica a psicóloga Neusa Sauaia, isso pode ser um problema. “Um ritmo acelerado demais pode tornar as coisas vividas muito superficiais e sem sentido. Assim como uma fruta que possui seu tempo próprio para amadurecer, nós também deveríamos ter tempo para elaborar, apreciar e digerir o que vivemos. Mas as pessoas falam ao celular andando no parque, fazem propostas de negócios almoçando, comem lanche dirigindo, entre outros. Um monge, ao ser questionado sobre como encontrava tanta tranquilidade, respondeu a seu discípulo: ‘Quando eu ando, eu ando; quando eu como, eu como e quando eu escuto, eu escuto’”,.

É claro que nossa realidade é bem diferente do dia a dia de um monge, pois o mundo também nos cobra rapidez. Mas acredito que podemos nos esforçar para aprendermos a ter um pouco mais de paciência. Não estou dizendo para começar a fazer tudo devagar. Não é isso, aliás, se agir assim, o mundo vai atropelar você. O que estou sugerindo é que aprenda a ter mais paciência a fim de que, quando for necessário, possa usar isso a seu favor.

Por que desacelerar?

O primeiro grande benefício de sermos mais pacientes pode refletir diretamente em nossa saúde. José Luis Trechera ressalta, em seu livro A sabedoria da tartaruga, que viver em um ritmo constantemente acelerado pode ser muito prejudicial: “O tempo está se transformando em um dos bens mais escasso para o homem. A pressão torna-se insuportável e começa a ‘cobrar o preço’. Eis aqui alguns comportamentos que podem refletir esse ‘protesto’: alterações psicossomáticas, ansiedade e tensão, hiperatividade, desumanização pessoal e desestruturação social”.

No livro, o autor relata um desses protestos, mas apenas com os nomes deles você já pode ter uma ideia de como está sua situação atual.

Além da saúde, existem diversos outros benefícios que podemos ter aos sermos mais pacientes. Há também o livro O poder da paciência, de M. J. Ryan, que traz uma lista de coisas que podem melhorar sua vida, confira algumas vantagens:

» Paciência gera excelência – “Assim como o vinho, que vai ficando cada vez melhor à medida que envelhece, também é a paciência que, com o tempo, vai atingindo todo o seu potencial. Praticando-a podemos oferecer nossa contribuição especial ao mundo.”

» Paciência nos ajuda a tomar decisões melhores – “Se tivermos paciência, enfrentaremos a vida da seguinte maneira: algo está acontecendo e o resultado tanto pode ser ruim quanto bom. De qualquer forma, o importante é saber lidar com ele. Ficar nervoso ou estressado prejudicará nossa ação.”

» Paciência ajuda a desperdiçar menos tempo, dinheiro e energia – A autora conta que estava construindo sua casa e, na pressa de ver a obra terminada, eles não observaram um erro cometido pelo empreiteiro. Essa falha custou anos de aborrecimento, além de energia e dinheiro. “Foi um erro de grandes dimensões causado por falta de paciência. Em meu cotidiano, vivencio diversos tipos de pequenos erros toda vez que faço algo com pressa ou pulo etapas necessárias. E aí preciso começar tudo outra vez.”

Como ter mais paciência!

Ótimo! Como vimos através dos pontos destacados por Ryan, ao termos mais paciência, podemos colher vários benefícios. Mas e o que fazer para, mesmo vivendo em um mundo em que o ritmo está acelerado, termos mais paciência? Essa foi a pergunta que mais recebi quando questionei na e-zine Motivação se deveríamos frear ou acelerar. Recebi inúmeros e-mails dos leitores e, em geral, todos diziam que precisavam diminuir um pouco o ritmo, porém não sabiam como fazer isso, afinal, o mundo cobra velocidade. Então, fui em busca de respostas e tentarei mostrar algumas possibilidades para que possamos conseguir essa proeza.

A primeira importante lição que aprendi foi a de que precisamos nos conhecer melhor e procurar seguir nosso ritmo sempre que possível. “As pessoas são frequentemente contaminadas pelas exigências externas e avaliadas dentro de padrões coletivos. Conhecer seu próprio ritmo e limites e respeitá-los não é uma tarefa fácil, especialmente quando você está caminhando na contramão das expectativas sociais. É claro que nem sempre podemos seguir nosso ritmo ideal, mas a sabedoria está em administrar essas duas situações sem que uma sufoque a outra”, explica a doutora Neusa.

Acredito que outro ponto importante seja entender que paciência não significa lerdeza. Em seu livro, Trechera traz também uma reflexão bastante interessante sobre a tartaruga que pode ser muito útil para nós. O autor conta que, com seus movimentos pausados, esses animais se locomovem e buscam um lugar apropriado para desovar e enterrar seus ovos. Depois de identificar um local em que a maré alta não chegue, a tartaruga cava, com suas patas traseiras, um profundo buraco e começa a depositar seus ovos ali. Após 45 a 60 dias, começam a aparecer os primeiros filhotes que, numa procissão interminável, lutam para conseguir entrar no mar. “Ficamos espantados com esse espetáculo. Como é possível que esses minúsculos e vulneráveis seres alcancem um peso e tamanho tão gigantesco? A vida sempre triunfa e estabelece suas regras”, diz Trechera, listando algumas lições dessa experiência:

» A tartaruga vive em seu ritmo: sem pressa, mas sem pausa. O importante é realizar bem sua tarefa.

» Possuir um objetivo claro, ser fiel e seguir o plano proposto.

» Ter perseverança e constância. É fundamental tomar atitudes e não sucumbir a menor adversidade.

Equilíbrio – A maioria das pessoas escreveu comentando a e-zine, dizendo que a melhor coisa a fazer é aprender a equilibrar a paciência e a pressa. “Indivíduos que se entregam a correria diária em busca de seus objetivos e ficam cegos a ponto de não terem mais momentos com a família, conversar com os amigos, curtir a natureza, podem se tornar bons profissionais, mas acabam sendo conduzidos mecanicamente pelo sistema que lhes aprisionaram, tornam-se máquinas desprovidas de sentimento. Parar e ficar esperando o tempo passar também não é o caminho. Portanto, minha visão e conselho é usar o bom senso”, diz Francisco Silva Júnior. Já Ademir Cardoso compara a vida com uma corrida de Fórmula 1: “É preciso acelerar para vencer, não esquecendo que nas curvas temos de frear. Devemos acelerar, porém manter o freio sempre em boas condições para não passar reto nas curvas da vida”.

Praticando paciência

M. J. Ryan listou, em seu livro, diversos procedimentos para ajudar as pessoas a serem mais pacientes no dia a dia. Confira, a seguir, dez sugestões da autora.

1. Se você está trabalhando em um projeto grande, prefira observar o que já fez em vez de pensar no que ainda tem a fazer. A abordagem do “copo metade cheio” – em vez de “copo metade vazio” – aumenta a paciência porque apela para nosso senso positivo.

2. Você está no limite de sua tolerância com alguém no trabalho ou em casa? Experimente uma boa caminhada ou corrida. Assim, queimará os hormônios do estresse que se acumularam em seu organismo e terá mais capacidade para retomar sua paciência.

3. O velho conselho de contar até dez antes de falar em uma situação acalorada realmente pode funcionar. Esses segundos permitem que lembre o que de fato é importante para você: desperdiçar energia ou encontrar uma solução eficaz. Se contar até 10 não funcionar, experimente contar até 20.

4. Ao ficar em pé numa fila, transporte-se para férias mentais. Visualize o lugar mais tranquilo que puder, imagine, sinta e ouça a si mesmo nesse ambiente. Reflita sobre os sentimentos que ele evoca em você. Em vez de se conectar no tempo que terá de esperar, aproveite essa oportunidade para sonhar com o lugar mais bonito que conhece ou deseja conhecer.

5. Inicie um movimento pela paciência. Agradeça às pessoas que estão atrás de você por serem paciente enquanto procura moedas para pagar uma conta, fazendo a fila parar. Isso desarmará a tensão delas e, talvez, estimule as outras a fazerem a mesma coisa.

6. Quando tiver de esperar um bom tempo para alguma coisa se realizar – um projeto grande, por exemplo –, comemore os pequenos avanços ao longo do caminho. Dez páginas concluídas? Leve-se para almoçar fora. Ao nos premiarmos por algo que realizamos, injetamo-nos ânimo para continuarmos.

7. Está esperando impacientemente seu computador ligar? Faça alguns exercícios de alongamento para relaxar os músculos das costas e pescoço. Afaste-se da mesa, sente-se na beira da cadeira e alongue-se!

8. Preste atenção nas tarefas que está desempenhando. Ao limpar a mesa da cozinha, por exemplo, concentre-se no que está fazendo. Sinta seu braço se movendo para um lado e para o outro e aprecie o brilho que você está criando. Quando você se fixa no prazer da atividade, obtém paciência para realizá-la.

9. Encontre uma citação inspiradora, escreva-a num adesivo e cole-o em seu computador, espelho do banheiro ou no carro. Quando você perceber que está perdendo a calma, leia a citação para estimular sua paciência.

10. Peça ajuda. Muitas vezes, ficamos impacientes porque estamos sobrecarregados e exaustos. No fim da vida, você não receberá nenhum prêmio por ter feito uma enorme quantidade de coisas, especialmente se tiver feito em um estado de esgotamento e exasperação.

Movimentos em prol da desaceleração

Nas últimas décadas, vimos crescer o número de novidades que prometiam fazer o que desejávamos de uma forma mais rápida: as refeições, com o fast-food, as leituras dinâmicas, os treinamentos ou livros que prometem algum tipo de conhecimento de maneira muito veloz, entre outros. No entanto, agora começamos a ver um movimento inverso: pessoas pedindo menos pressa. Tanto que somente nesta matéria citamos dois livros que tratam da importância da paciência, mas existem muitos outros também.

A teoria de viver de maneira menos acelerada tem ganhado forças com o movimento Slow – devagar e tranquilo –, que parte do pressuposto de que serenidade e calma aumentam a qualidade de vida. Um dos principais teóricos e defensores desse movimento é o jornalista Carl Honoré. Esse escocês percebeu que precisava desacelerar quando observou a pressa com que lia para seu filho antes de ele dormir. Ele procurava histórias menores e até pulava páginas para acabar logo e poder realizar todas as suas outras diversas tarefas. A partir dessa percepção, surgiu a reflexão que originou sua obra Devagar: como um movimento mundial está desafiando o culto da velocidade, um livro que faz uma crítica contra a sociedade frenética e consumista. Ele pretende propor uma alternativa mais viável para os que desejam restabelecer sua vida. Na obra, o autor mostra a importância de equilibrar os momentos de tranquilidade e os de ócio – também fundamentais para a rotina das pessoas.

Assim, surgiram vários outros movimentos que pregam a desaceleração da humanidade. No Brasil, já estão presentes iniciativas como Slow Cities (cidade devagar), Slow Food (comer devagar), Slow Work (trabalhar devagar), Slow Travel (viajar devagar) e até o Slow Sex (sexo devagar). Todos eles pregam que as pessoas devem realizar suas rotinas diárias de uma maneira menos acelerada, com o objetivo de aproveitá-las melhor e viver com mais qualidade de vida.

Para saber mais, visite os sites:
Neusa Sauaia – www.nucleoespiral.org.br
Slow Food Brasil – www.slowfoodbrasil.com.br

Livro: O poder da paciência
Autora: M. J. Ryan
Editora: Sextante

Livro: A sabedoria da tartaruga
Autor: José Luis Trechera
Editora: Academia de Inteligência

Livro: Devagar: como um movimento mundial está desafiando o culto da velocidade
Autor: Carl Honoré
Editora: Record

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