O caminho do meio

Crescer, se tornar um profissional, um médico, um empresário, pode ser uma experiência fascinante, porque todos os dias você aprende alguma coisa que não ensinaram em nenhum curso ou na faculdade. Crescer, se tornar um profissional, um médico, um empresário, pode ser uma experiência fascinante, porque todos os dias você aprende alguma coisa que não ensinaram em nenhum curso ou na faculdade. Talvez, nesses casos, as maiores lições sejam as que aprendemos em casa.

A ética é uma delas. Afinal, como disse o psiquiatra e escritor Içami Tiba, quando se trata de certo ou errado, de limites, o caminho do meio é muito perigoso. Imagine que você ensina seu filho que ele não pode pegar o carro enquanto não tiver carteira. Mas tirar da garagem pode? Dar uma volta da quadra? Ir até o supermercado? Não é longe… Esse é o caminho do ?meio?. É o nascimento de um profissional ?meio? ético.

Para ilustrar este pensamento, lembrei de uma história de James P. Lenfestey, jornalista, poeta e ativista ambiental, comentada por Zig Ziglar. Ela conta que um garoto de onze anos sempre ia pescar, quando tinha oportunidade, no trapiche ligado a uma casa de sua família, numa pequena ilha bem no meio do lago de New Hampshire.

No dia anterior à abertura da temporada de pesca ao robalo, ele e seu pai saíram para pescar à tarde, utilizando minhocas, pegando apenas peixes comuns. Então, ele colocou uma pequena isca prateada e arremessou-a em direção ao lago. A isca mergulhou na superfície da água e provocou ondulações coloridas naquele pôr-de-sol.

Quando de repente a bóia afundou ligeiramente, ele soube que alguma coisa grande estava na outra extremidade. Seu pai observou com admiração a forma habilidosa com que seu filho trouxe o peixe para perto do trapiche.

Finalmente, ele conseguiu tirar o exausto peixe da água. Era o maior que ele já havia visto, mas era um robalo.

O menino e seu pai olharam para o belo peixe, sua nadadeiras brilhando sob a Lua. O pai acendeu um fósforo e viu que eram 10 horas da noite ? duas horas antes da temporada abrir. Ele olhou para o peixe e depois para o garoto.

? Você terá de devolvê-lo ao lago ? disse o pai.

? O quê?!

? Haverá outro peixe!

? Mas nunca um tão grande quanto este! ? gritou o menino.

Ele observou em volta do lago. Não havia nenhum outro pescador ou botes na área. Embora ninguém os tivesse visto, nem pudesse saber o horário em que o menino pegou o peixe, ele pôde perceber através do tom de voz de seu pai que a decisão era inegociável. Ele, então, começou a retirar o anzol da boca do grande robalo e soltou-o nas negras águas da noite.

O animal sacudiu seu corpo e desapareceu. Naquele momento, o menino pensou que nunca mais veria um peixe tão grande.

Depois de adulto, ele mesmo leva seus filhos e filhas para pescar no mesmo trapiche da casa de seu pai, naquela bela ilha no meio do lago. E ele estava certo. Nunca mais pegou um peixe tão magnífico como aquele que soltou na noite enluarada. Mas ele sempre vê aquele mesmo peixe toda vez que está diante de uma questão de ética.

A verdade é que, assim como seu pai ensinou, a ética é algo sobre certo e errado. É apenas o praticar a ética que é difícil. Na minha experiência de mercado, conheci pessoas de todo o tipo, e conclui que há uma separação muito clara entre três tipos básicos de profissional:

· Os honestos ?

a imensa maioria, que respeita tanto as leis escritas quanto as de sua consciência.

· Os práticos ?

aqueles que se vêem obrigados, por forças que consideram maiores do que eles, a praticar atos dos quais não se orgulham. Convivem com a falta de ética com uma boa dose de culpa.

· As p… velhas ?

(peço desculpas pelo termo, especialmente às prostitutas que se sentirem, com razão, ofendidas pela comparação, mas resume bem a situação) aqueles que acham que só os otários são honestos, que ética é ilusão de idealistas, que todo mundo faz, etc. Como Bernard Tapie, ex-dono da Adidas, que disse num tribunal: ?Eu menti de boa-fé?. São os que têm a postura cínica típica de alguns políticos, como David Dinkins, ex-prefeito de Nova York, que disse: ?Eu não cometi um crime. Apenas desobedeci a lei?. Acham que os 10 mandamentos eram na verdade sugestões.

Para concluir, gostaria de dizer que acredito que devemos ser ensinados a colocar o peixe de volta na água quando somos pequenos. Assim aprendemos a evitar o caminho do meio. Gostaria de reforçar que a imensa maioria das pessoas é composta de pessoas honestas, que não aceitam e até, de certa forma, sentem-se ofendidas com propostas antiéticas. Então, se você é honesto, e acha que está em minoria, pode orgulhar-se com o fato de que na verdade faz parte de um grande grupo, que apenas não faz barulho.

Frase: ?A honestidade não é só a melhor política que existe, mas é tão rara que vai diferenciá-lo de todo o resto? ? Charles Brower

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