O mesmo que todos fazem, cinco vezes mais rĂ¡pido

O que aprendi em uma visita a fĂ¡bricas e escolas da China O que aprendi em uma visita a fĂ¡bricas e escolas da China

No final de Julho de 2005, 19 estudiosos de Babson, Stanford, UCLA, Northwestern e outras das melhores escolas de negĂ³cios dos Estados Unidos foram passar durante dez dias, visitanto fĂ¡bricas e universidades chinesas. Começamos nossa visita em Pequim (Beijing) e depois fomos a Xangai, CantĂ£o (Guangzou) e Shenzem. Voltamos aos Estados Unidos via Hong Kong.

É complicado tirar conclusões ao visitar apenas essas cidades e trĂªs universidades, ainda mais no papel de convidado, a quem Ă© mostrado apenas o melhor de cada local. Ainda assim, a maioria dos integrantes da expediĂ§Ă£o ficou impressionado com o que viu.

A nova China ?

A costa leste da China parece crescer a base de esterĂ³ides. Todas as cidades pelas quais passamos tĂªm aeroportos e rodovias novos e centenas de arranha-cĂ©us modernos. Para onde quer que vocĂª olhe, guindastes e outras mĂ¡quinas estĂ£o ocupados na construĂ§Ă£o de novos prĂ©dios. Carros de luxo trafegam nas ruas, passando por lojas que exibem tudo que nĂ³s, ocidentais, estamos acostumados a ver nos melhores bairros: de McDonald?s a Gucci, de Starbuck?s a Porsche.

Para se tornar o centro mundial de fabricaĂ§Ă£o a baixo custo com alta qualidade, o governo chinĂªs estimula a criaĂ§Ă£o de empresas privadas. O investimento estrangeiro chega a bilhões de dĂ³lares, para a construĂ§Ă£o de estradas e de portos que facilitem e agilizem o fluxo de mercadorias para outros paĂ­ses.

Fique atento ?

Se vocĂª acha que a China nĂ£o tem tecnologia ou know-how para competir no seu setor da economia, esqueça. As fĂ¡bricas que vi na China nĂ£o eram em nada diferentes daquelas que conheço nos Estados Unidos. Com a vantagem do apoio incondicional do governo local, que ajuda as empresas a implantarem as melhores tĂ©cnicas de produĂ§Ă£o, acabando com o mito das hordas de trabalhadores semi-escravos que seriam responsĂ¡veis por qualquer coisa ?Made in China?.

A fĂ¡brica local da Nokia, por exemplo, Ă© altamente automatizada e conta com poucos trabalhadores. SĂ³ que o governo chinĂªs ajudou a empresa de celulares, ao instalar grande parte de seus fornecedores em um mesmo parque industrial. A possibilidade de falar frente a frente com diversos fornecedores em um sĂ³ dia ajuda a Nokia a produzir novos produtos mais rapidamente e simplifica em muito a logĂ­stica. A importĂ¢ncia do relacionamento entre empresas parceiras Ă© tanta que atĂ© um sistema de Ă´nibus Ăºnico foi criado. Em vez de cada empresa ter seu Ă´nibus para levar os trabalhadores do trabalho para casa, elas se uniram para criar uma linha Ăºnica, estimulando o relacionamento entre todos os nĂ­veis de todas as empresas. Esses e outros exemplos seriam considerados prĂ¡ticas dignas de imitar em qualquer paĂ­s, mas na China elas sĂ£o implantadas mais facilmente, jĂ¡ que em outros paĂ­ses, as fĂ¡bricas estĂ£o espalhadas a bel-prazer e nĂ£o concentradas em um local especĂ­fico.

A Nokia abriu, nesse parque industrial, uma academia de ginĂ¡stica e um barzinho, exclusivos para genrentes e diretores de seus fornecedores. Relacionamento Ă© isso.

Velocidade ? Praticamente toda empresa que visitei na China se gabava de poder desenhar, desenvolver e produzir novos produtos mais rĂ¡pido do que em qualquer outro lugar do mundo. Algumas vezes, isso acontece devido Ă  intensa competiĂ§Ă£o pelo mercado interno ChinĂªs, que força as empresas a serem cada vez mais inovadoras. E esse mercado deve dobrar atĂ© 2007 ou 2008.

O baixo custo da mĂ£o-de-obra ajuda tambĂ©m, Ă© claro. É mais fĂ¡cil colocar pessoas focadas apenas em resolver problemas de design na China do que nos Estados Unidos, onde o custo de tal pesquisa seria proibitivo. É por isso que a maioria dos fabricantes de brinquedos possui grandes instalações na China. LĂ¡, Ă© possĂ­vel contratar um exĂ©rcito de escultores e de engenheiros de produĂ§Ă£o e fazer com que qualquer brinquedo, inspirado em qualquer personagem, entre em produĂ§Ă£o meses antes do que entraria em qualquer outro lugar do mundo.

Resumindo, todos os presentes naquela visita entenderam que a China continuarĂ¡ a crescer como um poder global de manufaturas, voltadas tanto para o mercado externo como para o interno. HĂ¡, entretanto, algumas tendĂªncias que podem frear um pouco a velocidade chinesa:

1. A juventude dos trabalhadores ?

Nas fĂ¡bricas que visitamos, vimos poucos trabalhadores com mais de 40 anos. A maioria sĂ£o homens e mulheres solteiros, entre 18 e 25 anos, que lutam para conseguir um salĂ¡rio relativamente melhor e tĂªm a cabeça virgem de ideais do velho comunismo. A maioria Ă© formada em um sistema educacional muito restrito e competitivo, que coloca Ăªnfase na memorizaĂ§Ă£o e no qual os alunos nĂ£o podem questionar o professor. Isso produz uma força de trabalho que pode ser treinada mais facilmente em linha de montagens e funções burocrĂ¡ticas. Entretanto, esse sistema de ensino produz pĂ©ssimos gerentes e vendedores. SĂ£o poucos os trabalhadores que ousam ir alĂ©m de suas responsabilidades e tentar mudar alguma coisa. Como um professor de uma escola de administraĂ§Ă£o chinesa notou, os estudantes sĂ£o capazes de aprender estatĂ­stica, anĂ¡lise de dados e cenĂ¡rios com uma velocidade impressionante. SĂ³ que usam esses dados para reforçar as decisões jĂ¡ tomadas, em vez de usĂ¡-los como base de algo novo e melhor. Treinar esse pessoal para ser mais criativo, assumir mais riscos Ă© perigoso na China: sĂ£o tĂ£o poucos os trabalhadores bons nisso que logo se tornam alvo de todo tipo de convite de concorrentes. Mas se nĂ£o treinar a empresa nĂ£o sobrevive.

2. Faltam executivos ?

Se novos gerentes nĂ£o estĂ£o sendo formados, executivos experientes nĂ£o existem. NĂ£o hĂ¡, naquele paĂ­s, pessoas com experiĂªncia em atuar em uma economia de mercado. Basta lembrar que a China saiu do fechado modelo SoviĂ©tico hĂ¡ menos de duas dĂ©cadas. NĂ£o existem pessoas capazes de dar exemplos e servir de coach e mentor para os jovens que começam, hoje, nas novas fĂ¡bricas. Trazer pessoas de fora Ă© caro e pode gerar problemas culturais. Cursos de MBA sĂ³ surgiram hĂ¡ dez anos e, apesar de haver centenas deles, muitos sĂ£o de qualidade duvidosa e nĂ£o suprem a necessidade local.

3. ManutenĂ§Ă£o ?

Em nossa viagem pelas cidades chinesas, uma coisa chamou atenĂ§Ă£o: ou os prĂ©dios e estradas eram novos e impressionantes ou eram decadentes, implorando por uma manutenĂ§Ă£o. NĂ£o hĂ¡ o ?antigo, mas preservado?, o ?traçado antigo, mas bem cuidado? que se vĂª nas outras cidades do mundo. Mesmo prĂ©dios novos aparentam ter mais idade devido Ă  falta de manutenĂ§Ă£o. Isso fora a poluiĂ§Ă£o, visĂ­vel em muitos dos locais visitados.

4. Duas Chinas ?

Ao se desenvolver rapidamente, o paĂ­s se dividiu em dois, criando bolsões de prosperidade e Ă¡reas onde a pobreza impera. Nas fĂ¡bricas de Xangai e regiĂ£o, o salĂ¡rio mĂ©dio Ă© 150 dĂ³lares por mĂªs. No norte do paĂ­s, Ă© 150 dĂ³lares ao ano. Para tentar diminuir a migraĂ§Ă£o aos grandes centros industriais e encorajar as pessoas a permancerem em suas cidades, o governo local eliminou a maior parte dos impostos que os fazendeiros pagavam. Com uma canetada, dois terços da populaĂ§Ă£o da china deixaram de pagar impostos. E isso nĂ£o gerou nenhuma crise fiscal grave, mostrando que a diferença entre as duas Chinas, a rural e a altamente industrializada, Ă© maior do que se imagina.

Concluindo ?

NĂ£o Ă© claro se, a mĂ©dio prazo, a China conseguirĂ¡ manter esse crescimento. Mas nos prĂ³ximos anos continuarĂ¡ a dominar a fabricaĂ§Ă£o mundial em diversos segmentos da economia. É hora de aprendermos com seus erros e acertos.

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