O poder das palavras

A dificuldade em compreender e ser compreendido acontece em formas sutis. Coisas e frases que as pessoas falam sem querer e são mal recebidas pelo outro lado.

Sempre achei que a palavra mais interessante da língua portuguesa é “pudibunda”. Uma perfeita contradição entre o que ela significa e seu som, o que ela evoca. Palavras são assim. Nem sempre são entendidas da maneira como se espera, como a pessoa que a falou ou escreveu quer.

E, no ambiente empresarial, isso pode causar um desastre. Imagine pessoas com uma educação formal, trabalhando em uma empresa onde é normal começar um e-mail com um palavrão. Dificilmente ela vai permanecer ali, por mais competente que seja.

A pessoa e a empresa vivem em mundos de comunicação diferentes, que dificilmente se casam. Para o funcionário, um palavrão pode significar que o mundo está caindo, que a situação é séria. Para a empresa, é simplesmente um meio de substituir um ponto de exclamação, de chamar ênfase para uma questão.

Essa dificuldade em compreender e ser compreendido acontece também em formas bem mais sutis. Coisas e frases que as pessoas falam, meio sem querer e que são mal recebidas pelo outro lado.

Alguns exemplos desse vocabulário negativo que deve ser evitado pelo líder:

  1. Valor negativo. Isso inclui fatalismo (“Já vi que isso não vai dar certo”, “Você nunca se importa, mesmo”), apatia (“Pode ser…” “Depois eu vejo isso”), e outras maneiras de descrever uma pessoa, grupo ou situação como um obstáculo eterno.
  2. Preocupação e dúvida vazia. “Não sei, mas não gosto disso…”, “Acho que não vai dar certo” e outros. Caso o líder tenha alguma dúvida (e é ótimo tê-las), ela deve ser acompanhada de uma razão de ser ou uma alternativa. Assim: “Olha, eu questiono a nossa capacidade de fazer isso no prazo, uma vez que temos um só fornecedor. Que tal verificarmos alternativas, se não de fornecedor, de material para aumentar nossas chances de sucesso?”
  3. Mesma tecla. “Sinto muito, mas desde que aprontamos aquela com esse cliente em 1997, não quero tentar nada de diferente com ele.” Se há uma coisa que o líder não deve fazer é fechar as portas para possíveis novas maneiras de se trabalhar ou fazer negócios.
  4. Falta de conexão. Isso é a pessoa que diz que não adianta falar com o pessoal da contabilidade, eles não querem entender nosso lado. Pode apostar que o pessoal da contabilidade fala exatamente a mesma coisa sobre a equipe daquela pessoa. Um líder preocupa-se em construir conexões, encontrar um terreno onde as duas partes concordem, e construir uma comunicação sólida a partir daí.
  5. A eterna falta. Certa vez, li um artigo onde um dono de jornal comentava o trabalho de um fotógrafo que fora pedir emprego. O empresário comentava as fotos, dizendo que o fotógrafo precisa melhorar um pouco, ser mais original, ousado, antes de trabalhar ali. Este então culpou seu equipamento, dizendo que sua câmara era antiga e ultrapassada. O editor não perdeu tempo: “Escuta, se eu te der uma caneta de ouro, você vai escrever como Machado de Assis?”. É isso. Condições ideais, nunca vão existir. Vai sempre faltar dinheiro, tempo, recursos. O líder trabalha bem com o que tem, e não procura desculpas.
  6. João-sem-braço. Fugir dos problemas, ignorar situações, ou exigir que a equipe faça o mesmo.
  7. Necessidade de dominação. Muito comum nos chefes que nunca serão líderes. É aquela necessidade de dominar, de demonstrar um controle, de exigir fora das medidas. É a pessoa que diz: “vamos encontrar uma maneira que todos trabalhem bem. Desde que seja a minha maneira”.
  8. Delegação da culpa e depreciação. É praticamente o contrário do item anterior. Aqui, a pessoa diz: “Até que eu queria, mas sabe como é, o pessoal lá de cima… eu não tenho nenhuma voz ativa para…” O que você acha que a equipe vai pensar de uma pessoa que se diz líder e age assim? Só prometa para sua equipe aquilo que você sabe que pode fazer ou que tem o apoio da empresa. Se não tiver, primeiro consiga esse apoio, antes de anunciar algo.
  9. Ver só o lado negativo. É aquela situação. Você leva a pessoa amada para um jantar romântico. Vinho excelente. Depois dançar. Depois, um fim de noite memorável. E de manha você, feliz da vida, ouve da pessoa amada: “Como que um restaurante caro daqueles não tinha o meu refrigerante diet?”. Desestimula, não? Depois de todo o esforço, em vez de agradecimentos, você escuta uma queixa. Pois bem, o mesmo acontece com equipes de trabalho. Elas precisam ouvir que seu esforço valeu a pena, mesmo que seja para acrescentar “ainda há espaço para melhorar, e sei que, depois do que vocês me mostraram hoje, nós podemos melhorar.

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