A dificuldade em compreender e ser compreendido acontece em formas sutis. Coisas e frases que as pessoas falam sem querer e são mal recebidas pelo outro lado.
Sempre achei que a palavra mais interessante da língua portuguesa é “pudibunda”. Uma perfeita contradição entre o que ela significa e seu som, o que ela evoca. Palavras são assim. Nem sempre são entendidas da maneira como se espera, como a pessoa que a falou ou escreveu quer.
E, no ambiente empresarial, isso pode causar um desastre. Imagine pessoas com uma educação formal, trabalhando em uma empresa onde é normal começar um e-mail com um palavrão. Dificilmente ela vai permanecer ali, por mais competente que seja.
A pessoa e a empresa vivem em mundos de comunicação diferentes, que dificilmente se casam. Para o funcionário, um palavrão pode significar que o mundo está caindo, que a situação é séria. Para a empresa, é simplesmente um meio de substituir um ponto de exclamação, de chamar ênfase para uma questão.
Essa dificuldade em compreender e ser compreendido acontece também em formas bem mais sutis. Coisas e frases que as pessoas falam, meio sem querer e que são mal recebidas pelo outro lado.
Alguns exemplos desse vocabulário negativo que deve ser evitado pelo líder:
- Valor negativo. Isso inclui fatalismo (“Já vi que isso não vai dar certo”, “Você nunca se importa, mesmo”), apatia (“Pode ser…” “Depois eu vejo isso”), e outras maneiras de descrever uma pessoa, grupo ou situação como um obstáculo eterno.
- Preocupação e dúvida vazia. “Não sei, mas não gosto disso…”, “Acho que não vai dar certo” e outros. Caso o líder tenha alguma dúvida (e é ótimo tê-las), ela deve ser acompanhada de uma razão de ser ou uma alternativa. Assim: “Olha, eu questiono a nossa capacidade de fazer isso no prazo, uma vez que temos um só fornecedor. Que tal verificarmos alternativas, se não de fornecedor, de material para aumentar nossas chances de sucesso?”
- Mesma tecla. “Sinto muito, mas desde que aprontamos aquela com esse cliente em 1997, não quero tentar nada de diferente com ele.” Se há uma coisa que o líder não deve fazer é fechar as portas para possíveis novas maneiras de se trabalhar ou fazer negócios.
- Falta de conexão. Isso é a pessoa que diz que não adianta falar com o pessoal da contabilidade, eles não querem entender nosso lado. Pode apostar que o pessoal da contabilidade fala exatamente a mesma coisa sobre a equipe daquela pessoa. Um líder preocupa-se em construir conexões, encontrar um terreno onde as duas partes concordem, e construir uma comunicação sólida a partir daí.
- A eterna falta. Certa vez, li um artigo onde um dono de jornal comentava o trabalho de um fotógrafo que fora pedir emprego. O empresário comentava as fotos, dizendo que o fotógrafo precisa melhorar um pouco, ser mais original, ousado, antes de trabalhar ali. Este então culpou seu equipamento, dizendo que sua câmara era antiga e ultrapassada. O editor não perdeu tempo: “Escuta, se eu te der uma caneta de ouro, você vai escrever como Machado de Assis?”. É isso. Condições ideais, nunca vão existir. Vai sempre faltar dinheiro, tempo, recursos. O líder trabalha bem com o que tem, e não procura desculpas.
- João-sem-braço. Fugir dos problemas, ignorar situações, ou exigir que a equipe faça o mesmo.
- Necessidade de dominação. Muito comum nos chefes que nunca serão líderes. É aquela necessidade de dominar, de demonstrar um controle, de exigir fora das medidas. É a pessoa que diz: “vamos encontrar uma maneira que todos trabalhem bem. Desde que seja a minha maneira”.
- Delegação da culpa e depreciação. É praticamente o contrário do item anterior. Aqui, a pessoa diz: “Até que eu queria, mas sabe como é, o pessoal lá de cima… eu não tenho nenhuma voz ativa para…” O que você acha que a equipe vai pensar de uma pessoa que se diz líder e age assim? Só prometa para sua equipe aquilo que você sabe que pode fazer ou que tem o apoio da empresa. Se não tiver, primeiro consiga esse apoio, antes de anunciar algo.
- Ver só o lado negativo. É aquela situação. Você leva a pessoa amada para um jantar romântico. Vinho excelente. Depois dançar. Depois, um fim de noite memorável. E de manha você, feliz da vida, ouve da pessoa amada: “Como que um restaurante caro daqueles não tinha o meu refrigerante diet?”. Desestimula, não? Depois de todo o esforço, em vez de agradecimentos, você escuta uma queixa. Pois bem, o mesmo acontece com equipes de trabalho. Elas precisam ouvir que seu esforço valeu a pena, mesmo que seja para acrescentar “ainda há espaço para melhorar, e sei que, depois do que vocês me mostraram hoje, nós podemos melhorar.