O suplício de Tântalo

Tenho desenvolvido um trabalho novo na área de alta performance falando sobre as armadilhas que naturalmente surgem ao ter sucesso.

Por que é tão difícil para algumas pessoas (e empresas) manterem-se consistentemente no topo, com bons resultados? (Resposta rápida – por dois grandes motivos: porque a pessoa/empresa deixou de ser quem/o que era quando ainda não tinha sucesso ou porque engessou e virou uma caricatura mumificada cover de si mesma, sem conseguir evoluir ou mudar).

Mas falar de maneira racional, objetiva, analítica sobre esse assunto empobrece a conversa, não enriquece. Fecha portas, não abre. Não faz com que as pessoas entendam de verdade o que está acontecendo e como reagir (ou evitar, ou aprender, ou mudar).

Encontrei na mitologia greco-romana várias histórias, parábolas e lendas que mostram como o ser humano já debate o assunto há literalmente centenas de anos.

As lendas que ficaram, por terem sobrevivido ao tempo, mostram uma profundidade e uma sabedoria que estimulam a reflexão e o aprendizado.

Farei então uma sequência de textos sobre isso, começando pelo Suplício de Tântalo.

Na mitologia grega, Tântalo era rei da Frígia e filho de Zeus. Casado com Dione (que por sua vez era filha de Atlas), teve um casal de filhos: Níobe e Pélope.

Conta a lenda que, originalmente, Tântalo era muito querido pelos deuses, sendo convidado com frequência a compartilhar suas refeições no Olimpo.

Com o passar do tempo, foi ficando arrogante e ressentido – é difícil de ser humilde quando se é filho de Zeus, genro de Atlas e é convidado a participar de banquetes no Olimpo.

Empolgado e ambicioso, num dos jantares Tântalo roubou néctar e ambrosia, alimentos que davam imortalidade, mas eram um privilégio reservado aos deuses.

E o pior estava ainda por vir. Porque agora Tântalo era imortal, começou a ficar cada vez mais desafiador.

Tântalo não se conformava em não ser considerado ele próprio também um deus, merecedor de estar no Olimpo, junto com os outros que considerava seus pares. Então bolou um plano para (na cabeça dele) ‘desmascarar’ a sabedoria e a superioridade dos outros deuses: com a desculpa de retribuir a atenção e a amizade que haviam lhe dado, Tântalo convidou os deuses olímpicos para um jantar no seu próprio palácio.

Querendo provar que os deuses eram fáceis de enganar e não tão superiores assim, matou o filho Pélope (que, coitado, não tinha culpa de nada) e serviu sua carne no jantar oferecido aos deuses olímpicos. Com isso, queria mostrar que eles não eram omniscientes, que não sabiam tudo, que era tudo pose e que poderiam ser facilmente enganados.

Obviamente o plano dá errado. Os deuses descobrem horrorizados, durante a própria janta, que foram enganados, que caíram numa armadilha e que, sem saber, comeram carne humana. Como castigo, Tântalo é condenado ao Tártaro (o que para nós seria o Inferno) onde, num vale abundante de alimento e água, ele é sentenciado a eternamente não poder saciar sua fome ou sede.

A água lhe escorre entre as mãos, os galhos das plantas se afastam quando ele se aproxima.

E agora, por ter roubado néctar e ambrosia sem permissão, ele é imortal. Ou seja, o sofrimento será ETERNO

Chama-se então Suplício de Tântalo esse sofrimento de ter algo próximo, ao lado, mas inatingível e inalcançável.

É, literalmente, fome e sede eternas. Prazer inalcançável, meta inatingível, vontade insaciável.

Noto isso com frequência nas pessoas de alta performance, principalmente nas que tiveram sucesso material como resultado: busca cada vez maior por MAIS. Já nem sabem mais por que querem (ou se precisam). É só uma busca cega por mais.

A vida deixou de ter sentido e passou a ser uma meta: MAIS.

Funciona por um certo período. Não para sempre. O preço a se pagar é imenso (e às vezes perpétuo e infinito, pois foram feitas e ditas coisas que não voltam atrás).

Meu #parapensar e a reflexão da semana é sobre isso: o Suplício de Tântalo.

O prazer inalcançável, a meta inatingível, a fome e a vontade insaciável. A pessoa que nunca está contente com o que tem fora porque o problema não é fora, é dentro. A pessoa ressentida, que precisa desesperadamente mostrar que é melhor, que é superior, que EXIGE atenção e reconhecimento. A pessoa que tem tudo que precisa mas, insatisfeita, continua desesperadamente buscando mais até que perde tudo.

Essa é a 1ª armadilha e o 1º suplício da alta performance.

Alta performance precisa ter um sentido, uma missão, um propósito que vá além da conquista financeira. Dinheiro é ótimo, todos queremos, ajuda incrivelmente, mas não pode ser a busca final.

Você precisa estar construindo algo maior, mais importante e não apenas comparando-se com os outros e querendo estar melhor por questões de ego e vaidade.

A pessoa que só quer dinheiro consegue exatamente isso na sua vida: só dinheiro. É a vida mais pobre que existe. É o Suplício de Tântalo.

Quero mentorados e seguidores que tenham DINHEIRO + PROPÓSITO. Os dois, não um ou outro. Dinheiro e propósito não são excludentes, pelo contrário. A questão é ter sabedoria para equilibrar as prioridades e dar atenção merecida a todas as áreas importantes nessa jornada.

Lembre que minha definição de alta performance é alcançar e superar metas desafiadoras de maneira consistente e sustentável. Métricas de vaidade raramente são consistentes e sustentáveis.

Precisamos de algo mais sólido do que isso. A verdadeira alta performance não é superficial, ela tem um Norte e um objetivo muito claro: construir e melhorar. O impacto positivo nos outros é a grande meta, e a consequência natural de criar esse valor é que chamamos de sucesso. Riqueza criada pela geração de valor (foco no Outro), não pela métrica da vaidade (foco no Ego).

Enquanto o foco for externo, em mais, em provar que somos melhores do que alguém, em que somos bons (e os outros não são), enquanto nos compararmos eternamente com um ideal ou expectativas irrealistas, enquanto tivermos que provar que somos superiores para que nos respeitem, enquanto o foco estiver no Ego e não no OUTRO… sofreremos sempre do Suplício de Tântalo.

Duas formas práticas de lidar com isso:

a) Questione a fome interna, entenda de onde ela vem, principalmente quando for direcionada a conquistas materiais que no fundo são superficiais e motivadas por vaidade e insegurança.

b) Não persiga, atraia. Inverta o jogo. Quando você persegue algo é porque esse algo está fugindo de você. É um conceito que Ralph Marston trouxe e que mudou minha vida. Inverta o jogo. Ao invés de perseguir, atraia. Torne-se a pessoa que ATRAI o que você quer. É uma mudança forte de paradigma para quem tem uma personalidade mais agressiva e proativa como eu, mas é transformador (e funciona). Deixe de perseguir e correr atrás. Atraia.

Semana que vem falo sobre a 2ª armadilha e suplício e trago um outro personagem: Sísifo.

Abraço, boa semana e boa$ venda$,
Raul Candeloro
Diretor

P.S. Se quiser mandar algum comentário sobre isso, estou sempre disponível pelo [email protected].

P.S. 2: Se quer uma palestra ou workshop diferente, de alguém que fala de experiência e sabedoria sobre alta performance em liderança, gestão e vendas… é só avisar. Devo ir ao Brasil apenas 3 ou 4 vezes em 2023 e seria um prazer participar de algum encontro com sua equipe.

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