Os limites da qualidade

Quanto mais pobre e atrasado um país, mais medalhas e condecorações no peito dos seus generais. Quanto mais pobre e atrasado um país, mais medalhas e condecorações no peito dos seus generais. Mais canudos de bacharel nas estantes das elites que cursaram universidades pagas pelo erário. Uma cultura onde burocracia, regulamentos, direitos adquiridos, parentesco ou amizade com o rei valem mais de que produtividade, informações, direito de escolha, concorrência, competência e parâmetros de mercado.

Os princípios fundamentais que regem a filosofia de qualidade da ISO 9000/2000 são corretos, porque inserem uma empresa nos trilhos do aperfeiçoamento contínuo e podem até abrir as portas de novos mercados mundiais, uma vez que as grandes corporações internacionais exigem essa pré-qualificação dos seus fornecedores para iniciar qualquer negociação. É um pré-requisito básico.

Perguntar a um empresário se gostaria de conquistar e fazer parte do seleto clube ISO seria o mesmo que perguntar a um atleta olímpico se ele gostaria de subir ao pódio e receber a mais alta distinção do mundo ao som do hino nacional de seu país. Em ambos os casos, o tão sonhado galardão só é concedido a alguém por reconhecidos méritos, desafiados, comprovados e recomprovados em várias provas. Não há como comprar um título desses. As únicas moedas de troca são treinamento, preparação física e mental, cumprimento de normas rígidas, disciplina, muita força de vontade e seriedade de propósito.

A outra face, o lado sombrio da moeda, são as distorções que se fazem a respeito das verdadeiras finalidades, a própria existência de um certificado e o pouco conhecimento que as pessoas têm sobre a cultura da qualidade total, nas empresas, em casa e na escola. Ao conquistar uma medalha de ouro, o atleta completa uma etapa de sua carreira, finalizando um trabalho e provando que é o melhor em sua categoria.

Ao passo que para um empresa, a conquista do certificado é a primeira prova de habilitação, o início de uma grande jornada. E ninguém ganha certificado ou diploma freqüentando o primeiro dia de aula, mesmo nas piores escolas do mundo, por isso é que deveria ser concedido um selo de qualidade, não um pomposo certificado.

Mesmo porque a qualidade total não é um único alvo a ser atingido, mas um ideal de aperfeiçoamento que as empresas inteligentes devem perseguir com determinação minuto a minuto, meta a meta, dentro de uma rígida e eficiente diretriz de trabalho, onde cada objetivo atingido acaba gerando outro maior ainda.

Logo, a qualidade total deve estar embutida na cultura, no comportamento, nas atitudes e na cabeça das pessoas, não nas peças publicitárias das empresas. O vale mesmo são os certificados simbólicos concedidos pelos clientes satisfeitos e pelas melhorias de resultados implementadas a partir da incorporação desses princípios fundamentais por toda a equipe, do colaborador da limpeza ao acionista majoritário.
Claro que o Certificado ISO é um passo importante na vida de uma organização. Mas não é título descontável em banco, nem alvará de garantia de sucesso num mercado competitivo como o nosso. Além do que os investimentos feitos em consultaria e o tempo gasto na preparação, registros e formulários, podem colocar uma empresa em sérias dificuldades financeiras, caso não forem tomadas as devidas precauções em tempo hábil.

É um tempo demasiado longo para uma organização fechar-se em quatro paredes, envolver-se exaustivamente em formulários e tratar somente de assuntos internos, por melhores que possam ser os resultados futuros. Hoje as mudanças acontecem rapidadamente e qualquer piscar de olho pode significar perdas irrecuperáveis. Você não pode pedir tempo para se organizar, precisa abastecer seu avião em pleno ar.
Será que só as empresas certificadas podem praticar a tecnologia da qualidade total? Será que são só as certificadas que produzem os melhores produtos, prestam os melhores serviços e atendem seus clientes de maneira diferenciada? A resposta para estas perguntas é um sonoro n, a, o, til em caracteres maiúsculos.

Independentemente de porte, estrutura, nacionalidade ou capacidade financeira, qualquer empreendimento pode praticar com eficiência os princípios da qualidade total, produzir com excelência e atender bem seus clientes. Servir à comunidade, gerar empregos e produziar excelentes resultados. Agilidade, visão de mercado, qualidade de vida das pessoas, senso de equipe, isso tudo uma empresa pode ter independe de qualquer certificação.

Conteúdos Relacionados

Show must go on

Show must go on

Hoje ia escrever sobre a morte do vendedor B2B, change management e a mudança brutal que vem forçando equipes de vendas a se adaptarem. Mas,

Continuar lendo

Pin It on Pinterest

Rolar para cima