Quando foi contratado por uma empresa de seguros para descobrir por que alguns corretores vendiam muito mais do que outros, Neil Rackham descobriu que os campeÔes faziam MAIS PERGUNTAS do que a média.
Mas as perguntas nĂŁo eram feitas de maneira desorganizada; tinham uma lĂłgica, uma sequĂȘncia que direcionava a conversa de maneira a aumentar muito as taxas de conversĂŁo e de fechamento.
Rackham, entĂŁo, organizou as perguntas em quatro grandes ĂĄreas:
- Perguntas sobre a SITUAĂĂO do cliente;
- Perguntas sobre os PROBLEMAS que o cliente tem ou quer evitar;
- Perguntas sobre a IMPLICAĂĂO do problema (aprofundamento da dor, o que mais acontece como consequĂȘncia do problema);
- Perguntas do que ele chamou de Need Pay Off. Em portuguĂȘs, podemos traduzir pelos BENEFĂCIOS que o cliente terĂĄ ao comprar de vocĂȘ.
DaĂ surgiu o acrĂŽnimo SPIN que dĂĄ nome Ă tĂ©cnica e ao livro que altamente recomendo (Alcançando a ExcelĂȘncia em Vendas â SPIN Selling, M.Books).
Uma das coisas que mais me chamou a atenção quando li o livro pela primeira vez foi a ĂȘnfase de Neil Rackham em dois pontos:
- NĂŁo pular etapas do processo.
- Lembrar sempre que o mais importante do SPIN Ă© o cliente mesmo verbalizar, ao final da conversa, os benefĂcios que terĂĄ. Ou seja, a lĂłgica toda do SPIN Ă© conduzir o cliente Ă constatação clara de que comprar de vocĂȘ Ă© algo que claramente vai valer a pena. Tanto que ele FALA isso ao final da conversa â e esse Ă© o ponto alto do SPIN. âAh⊠entĂŁo se eu comprar de vocĂȘ X?âVendedores iniciantes, despreparados ou amadores tĂȘm uma grande dificuldade de aplicar o SPIN porque vĂŁo pulando todas as etapas e falam eles mesmos os benefĂcios de o cliente comprar.
Existe uma diferença ENORME entre vocĂȘ, vendedor, falar para o cliente âCompre de mim e terĂĄ estes benefĂcios X, Y, Zâ, e o prĂłprio cliente falar âEntendi! Se eu comprar de vocĂȘ, eu consigo X, Y, Zâ.
Falo isso porque o outro dia assisti a uma apresentação de um projeto que não terminou em venda.
O vendedor falou quase o tempo inteiro, falou muito sobre o que seria feito, falou sobre os benefĂcios que o cliente teria e em nenhum momento parou para perguntar ao cliente o que era mais relevante, quais as prioridades dele, o que considerava mais importante, se aquilo fazia sentido etc.
A apresentação foi muito boa. O vendedor falou muito bem, os slides estavam muito bem diagramados, energia e entusiasmo bons⊠mas foi um grande monólogo no que eu chamo de NIPS, que é exatamente o contrårio do SPIN.
O vendedor fala sobre tudo que vai entregar e como vai ser incrĂvel para o cliente se ele fechar o contrato, fala um pouco dos problemas, quase nada da implicação e da situação e nĂŁo entende por que o cliente fala que vai pensar (e depois nĂŁo fecha).
A questão jå é antiga: ninguém compra um parafuso. Todo mundo compra o que o parafuso VAI FAZER.
Quantos motivos existem para alguém comprar e usar um parafuso? 450.000, provavelmente.
AĂ o cliente liga para a empresa, pergunta se tem parafusos, pergunta quanto custa, o âvendedorâ (que nĂŁo Ă© vendedor, Ă© cotador de preços) responde e pronto. Se tiver preço melhor que a concorrĂȘncia e entregar no prazo, tem um pedido. Se nĂŁo, desliga e espera o prĂłximo contato.
Isso não é venda consultiva. à a definição dolorosa de venda transacional. E vender de forma transacional num processo consultivo é DESVENDER.
A quantidade de vendas que sĂŁo perdidas porque o/a vendedor/a nĂŁo entendeu de verdade o que o cliente estĂĄ comprando ou por que estĂĄ comprando Ă© ENORME.
Lembro quando nasceu o Daniel, meu primeiro filho, e tive que trocar de carro e de apartamento. Foi uma piada. Visitamos mais de 20 prĂ©dios em Curitiba, vimos imĂłveis em Joinville e MaringĂĄ, e os/as corretores/as estavam muito mais preocupados com o imĂłvel e com a nossa capacidade de pagar do que com o que realmente querĂamos e precisĂĄvamos.
Felizmente encontramos o Carvalho, que entendeu imediatamente o que querĂamos e nos levou a visitar o apartamento que finalmente compramos. NĂŁo precisou nos mostrar 30. O que ele fez? Muitas perguntas! Aprofundou, questionou, entendeu.
Mesma coisa com carro â vendedores muito mais preocupados com cilindragem, economia, aceleração e design do que com segurança, que era o que eu realmente estava procurando. Se a MarĂlia ia levar o Dani (e depois o Rafa junto) para a escola ou clube, a Ășltima coisa que eu queria era um carro que acelerasse de 0 a 100 em 5 segundos. Mas era o que os vendedores insistiam em me vender.
Tenho 200 dessas histĂłrias para contar â e conto vĂĄrias nas palestras. No intervalo, o pessoal vem me dizer que acontece com eles tambĂ©m. AliĂĄs, aposto que a mesma coisa jĂĄ aconteceu com vocĂȘ: o/a vendedor claramente focado/a no produto/serviço/solução que estĂĄ vendendo e nĂŁo no que vocĂȘ realmente precisa.
Isso Ă© desvender. Pode ter funcionado em algum momento no passado, mas hoje, com clientes cada vez mais exigentes, mais informação disponĂvel, nĂșmero maior de concorrentes e mercado cada vez mais agressivo, nĂŁo existe mais espaço para ineficiĂȘncia.
O processo de venda claramente mudou, os clientes mudaram e os vendedores (e os gestores!) precisam mudar também.
Ao invés de ficarem obcecados em prospectar mais e aumentar a carteira de clientes, vendedores e gestores que quiserem alcançar e manter a alta performance precisam claramente focar na criação e melhoria de processos comerciais mais eficientes, focados NO CLIENTE. Não no produto, serviço, solução, seu umbigo, o preço do concorrente. NO CLIENTE.
Vendedores que fazem mais perguntas, que prestam mais atenção nas respostas e constroem com isso uma proposta de valor muito mais sólida, fecham mais vendas, com margens melhores e mais satisfação de clientes.
Então, o desafio e a sugestão que lhe faço esta semana é: ao invés de nos preocuparmos em vender mais, que tal nos preocuparmos em entender onde estamos perdendo vendas e oportunidades?
Esse Ă© o questionamento da semana: onde, como e quando estamos DESVENDENDO?
Por que isso acontece? Onde podemos melhorar?
Começar evitando erros båsicos que levam à baixa performance é um dos melhores caminhos para atingir a alta performance.
Pare de desvender e nĂŁo aceite mais que isso aconteça. Ă um desserviço para vocĂȘ, para a empresa que vocĂȘ representa e, principalmente, para prospects e clientes que nĂŁo aguentam mais serem atendidos por vendedores ineficientes.
Vamos dar um basta nisso e vamos fazer nossa parte. Chega de desvender.
Abraço, boa $emana e boa$ venda$,
Raul Candeloro
Diretor
P.S. Quer que eu ou alguém da minha equipe VM fale com os vendedores e gestores da sua empresa sobre isso? Entre em contato e vamos trabalhar juntos para fazer isso acontecer: [email protected]
P.S. 2, para descontrair e para lembrar a sensação que fica quando desvendemos: