Paulo Okamotto ? Capacite-se e empreenda com sucesso

O presidente do Sebrae dá dicas para quem quer começar um empreendimento Há cinco anos, Paulo Tarciso Okamotto está na diretoria do Sebrae, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Entretanto, a luta pelo setor defendido pela instituição começou quando ele ainda era metalúrgico no interior de São Paulo, na década de 80. Durante todos os anos de atuação, Okamotto se tornou um profundo conhecedor das necessidades e dificuldades enfrentadas pelas micro e pequenas empresas, passando a ser conhecido como um dos grandes líderes das causas dos pequenos.

Desde 2005, ano em que foi eleito presidente do Sebrae, Okamotto contribuiu muito para o crescimento do setor. No ano passado, participou diretamente da aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que dá tratamento favorecido, diferenciado e simplificado aos pequenos negócios, reduzindo os impostos e a burocracia. Além disso, consolidou a GEOR (Gestão Estratégica Orientada para Resultados), metodologia que torna pública a execução de mais de mil projetos do Sebrae via internet.

Em entrevista exclusiva à VendaMais, Paulo Okamotto fala dos projetos do Sebrae e do que é preciso fazer para empreender. Confira!

VendaMais ? Quais mudanças ocorreram na instituição depois de mais de três décadas de atuação?

Paulo Okamotto ? Muitas mudanças, e todas para melhor. A começar pela própria estrutura do Sebrae, que deixou de ser organismo da administração direta para se tornar uma sociedade civil sem fins lucrativos, com muito mais agilidade e liberdade de ação. É claro que ainda hoje o foco inicial continua o mesmo: capacitar e fortalecer os pequenos negócios. Entretanto, a maneira de atuação se alterou, preocupando-se com o coletivo e com ações de maior amplitude. Além disso, o vertiginoso progresso da comunicação, com a internet e a massificação da TV, está nos ajudando a atingir uma clientela bem maior e a ampliar a difusão do conhecimento e da informação, que é nossa principal missão.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria das empresas formais do Brasil são pequenas ou médias. Como a economia brasileira está ligada a esse dado?

O último dado disponível do IBGE, de 2002, aponta a existência de 4,8 milhões de micro e pequenas empresas. Pela definição da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, em vigor desde dezembro do ano passado, as micro são aquelas com faturamento anual de até 240 mil reais, enquanto as pequenas têm até 2,4 milhões de reais. Esse universo formal representa 99% do total das empresas brasileiras, 56% da força de trabalho urbana com carteira assinada e mais de 25% da massa salarial. Juntando a esse universo os negócios informais ? em torno de 9,5 milhões ?, temos um número bastante expressivo. Esta é a clientela do Sebrae: os formais e os informais. São eles que geram o maior número de ocupação e ajudam a distribuir a renda. Os pequenos negócios são absolutamente vitais para a economia brasileira e para o seu desenvolvimento.

Esse número de micro e pequenas empresas é positivo, negativo ou indiferente?

É muito positivo. Pelo seu porte, as micro e pequenas empresas são mais ágeis e como são capilares, ou seja, estão em todo o lugar, são fatores de interiorização do desenvolvimento. As pequenas empresas existem em todas as economias do mundo, sejam as desenvolvidas, as emergentes ou em desenvolvimento, elas são essenciais em qualquer economia. Não que as grandes empresas, as grandes plantas, os conglomerados não sejam importantes, eles são, pois geram imposto, tecnologia e formam cadeias produtivas, nas quais, em muitos casos, se incluem as pequenas empresas.

Como o Sebrae pode ajudar um empreendedor que deseja começar um novo negócio?

De muitas formas. Temos mais de 200 produtos, programas e serviços que atendem ao empreendedor. Pode ser um curso pela internet sobre capacitação gerencial, uma cartilha, uma aula pelo rádio ou pela televisão ou até mesmo um curso presencial. Temos cerca de 750 pontos de atendimento em todo o País, entre próprios e de parceiros como prefeituras, associações de moradores e associações comerciais. Essa rede reúne quase mil profissionais aptos a orientar presencialmente não só a criação do negócio, mas também a administração daquele que já existe. O empreendedor também pode acessar o nosso site e saber como nos encontrar.

No Brasil, as cargas tributárias ainda são altas para quem deseja empreender. Quais são as medidas pensadas pelo Sebrae para auxiliar os novos empreendedores em momentos em que há o desejo de empreender, mas faltam recursos financeiros?

O problema da carga tributária alta para os negócios de menor porte está bem encaminhado na Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas com o Simples Nacional. Para as outras empresas, as médias e grandes, será preciso uma reforma tributária. Ampliar o acesso aos recursos financeiros ? um grande entrave para os pequenos negócios ? é uma das diretrizes estratégicas do Sebrae. Tanto que temos unidades específicas para isso. Com programas de capacitação, estimulamos a disseminação do microcrédito e do cooperativismo de crédito, procuramos mudar e melhorar as garantias, que são um dos principais obstáculos para um maior acesso dos pequenos aos recursos financeiros.

Como o Super Simples pode ajudar as pequenas e médias empresas no seu desenvolvimento?

O Super Simples ou Simples Nacional, como é oficialmente chamado, é uma revolução na economia. Reúne oito impostos (federais, estaduais e municipais) em um só. É uma espécie de imposto único para as micro e pequenas empresas, cobrado uma vez por mês, no lugar de várias guias de recolhimento, com várias datas e cálculos diferentes. Em primeiro lugar, trata-se de uma brutal simplificação, uma grande desburocratização. Ele representa principalmente a diminuição na carga tributária, que, dependendo do caso, pode chegar a 80%. Com a simplificação e impostos menores, as micro e pequenas empresas se fortalecem, vendem mais, empregam mais e têm perspectiva de vida longa. Está surgindo um novo Brasil com o Simples Nacional.

O que o Sebrae tem feito para melhorar a garantia de crédito para os empreendedores?

Por iniciativa do Sebrae, uma lei complementar à Lei Geral instituiu o Sistema Nacional de Garantia de Crédito. A Lei Geral, a propósito, também facilita o acesso dos pequenos às compras governamentais e à atualização tecnológica, entre outros benefícios. Temos ainda convênios firmados com bancos privados e acertos com os bancos estatais para que emprestem mais e melhor aos pequenos. Mantemos um linha direta com o Banco Central para o aperfeiçoamento constante da legislação financeira referente aos pequenos. O Sebrae não empresta dinheiro, mas faz tudo para que bancos e outras instituições emprestem a eles.

Como as pequenas e médias empresas devem lidar com a inadimplência?

Do ponto de vista da empresa, é preciso, antes de abrir o negócio, se capacitar, se informar, se preparar bem e obter o máximo de informação possível para que a empresa seja bem administrada, para que haja planejamento e, portanto, possa se evitar a inadimplência. Do ponto de vista da inadimplência do cliente, é necessário conhecê-lo bem e dispor de um sistema de informação ágil e abrangente. Entretanto, todos sabemos que o risco é inerente ao negócio.

Como a política nacional influencia a atuação do Sebrae e, conseqüentemente, das pequenas e médias empresas?

Hoje, fortalecida, sólida e blindada contra influências partidárias ou eleitoreiras, a instituição tem como uma outra diretriz estratégica propor políticas públicas que melhorem o ambiente dos pequenos negócios. Fez isso muito bem, aliás, com a Lei Geral, que exigiu uma grande mobilização. A missão de assessorar a implantação de políticas públicas leva a nos relacionarmos muito bem com todos os três níveis de governo: federal, estadual e municipal, independente de partidos e ideologias. E não poderia ser diferente, pois os governos são nossos parceiros.

Enquanto em países desenvolvidos os empreendedores levam apenas dois dias para abrir uma empresa, no Brasil, a espera pode chegar a 70 dias. Como vencer essa burocracia e continuar com a vontade de empreender?

Recentemente, uma pesquisa realizada nas juntas comerciais do Departamento Nacional de Registro de Comércio vinculado ao Ministério do Desenvolvimento indicou que o prazo máximo de abertura de empresa no Brasil é de 73 dias, em Cuiabá, e o mínimo é de seis dias, em Maceió. O prazo de 73 dias é realmente muito tempo, podendo desestimular a abertura do negócio. Entretanto, a Lei Geral traz dispositivos que facilitam e desburocratizam a abertura, como a dispensa de vistoria prévia para funcionamento, à exceção de poucos casos. A nova legislação facilita e desburocratiza igualmente o fechamento. Alguns estados já estão adotando o cadastro sincronizado, no qual as empresas têm um só número de inscrição.

Essa burocratização pode levar à informalidade. Os negócios informais atrapalham a economia do País?

Atrapalham muito. Nenhuma economia no mundo é saudável com altas taxas de informalidade. Os impostos deixam de ser arrecadados, há concorrência desleal e predatória, além de empregos precários, que na verdade são ?ocupações? sem qualquer direito social. Ao dar tratamento simplificado, diferenciado e favorecido aos pequenos negócios, a Lei Geral torna a formalização atrativa. Sem dúvida, a redução da informalidade é um dos grandes benefícios da nova legislação.

Pesquisas mostram que boa parte das empresas brasileiras fecham as portas antes de completar cinco anos de vida. É possível reduzir esse índice?

Os dados anteriores sobre a mortalidade dos pequenos negócios, que apontavam uma taxa de 50% para empresas com até dois anos de funcionamento e 60% até quatro anos, felizmente estão superados. Uma nova pesquisa encomendada pelo Sebrae, feita pelo Vox Populi, apontou uma redução considerável nos índices de fechamento de empresas. Hoje, a taxa de mortalidade no Brasil é de 22%, um nível bem aceitável. O bom comportamento da economia contribuiu bastante para isso. Com a Lei Geral, esse índice se reduzirá ainda mais a médio prazo.

Que dicas você dá para os empreendedores que desejam abrir um negócio, e não sabem por onde começar?

Primeiro, eles devem procurar o Sebrae. Então, terão orientação, capacitação e informação. Como já disse, são requisitos absolutamente fundamentais para o sucesso do empreendimento. Também é necessário conhecer as expectativas do comprador, ter completo domínio do que venderá. Depois, é preciso ter criatividade, coragem, ousadia e persistência. Só tem sucesso no mundo dos negócios quem está preparado.

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