Pensar negativo é um caminho desastroso

Por Prof. Paulo Sérgio

A pesquisadora Gabriele Oettingen, da Universidade Nova Iorque e da Universidade Novo Hamburgo, realizou recente levantamento. Em síntese, após a aplicação de testes, ela concluiu que pensar negativo é necessário, para se somar aos pensamentos positivos. Na opinião dela, baseada no estudo, só pensar positivo pode fazer com que a pessoa superestime metas e sonhos, o que a faria viver num mundo de fantasias. E, se deparando com o imenso esforço que teria de fazer para realizar o que planejou, essa pessoa perderia a motivação.

Ainda segundo Oettingen, se a pessoa pensasse negativo, teria mais o pé no chão, na realidade. Pois o cérebro faria um contraste, passando a analisar os obstáculos, fazendo-a criar metas e sonhos menores, mais fáceis de serem realizados.

Respeitosamente, acredito que o tema da pesquisa ou não usou o termo correto ao transmitir a ideia de pensar negativo ou o teste aplicado não foi conduzido de maneira adequada.

O primeiro ponto é que motivação não se perde

Como é algo interno, a motivação sempre está onde tem de estar. Nós é que, muitas vezes, não conseguimos encontrá-la. O que vem de fora são apenas estímulos, não motivação. Portanto, a menção de que pensar demasiadamente positivo faz com que o cérebro – ao notar que o comprometimento, esforço e dedicação terão de ser enormes para a realização da meta, do sonho – reduza a motivação não é verdadeira.

Já quanto aos pensamentos, pensar positivo é a maneira mais rápida para construir o primeiro passo rumo ao atingimento de metas e sonhos. Essa forma de construção de ideias cria novas raízes mentais, com novas conexões que estimulam a mente. Isso libera neurotransmissores, digamos, positivos, que são direcionados a todo o corpo. Estes produzem ações e atitudes mais fortes, motivadas e inspiradas a dar continuidade ao novo modelo criado na mente. Tudo isso começa com os pensamentos positivos.

Os autores do livro O cérebro do vencedor, Jeff Brown e Mark Fenske rebateriam com veemência a pesquisa. Eles realizaram pesquisas e análises do cérebro de milhares de pessoas por meio de Imagem por Ressonância Magnética Funcional (IRMF). E descreveram no livro a seguinte tese: “O cérebro do vencedor é muito bom em ignorar eventos negativos e escolher o melhor caminho para atingir seus resultados”. Os autores chamam isso de Reinvestimento Focal.

Já a pesquisa de Gabriele Oettingen revela que o ideal seria manter juntamente pensamentos negativos. Mas, pela exposição, fica claro que não tem a ver com pensamentos negativos. Mas sim, meramente, com não superestimar a própria capacidade.

Pensamento negativo é outra coisa

São ideias mentais que não permitem à pessoa sequer pairar na realidade mais pessimista. Ela vai além. A pessoa cria uma cratera mental, uma teia, uma rede de conexões, onde um pensamento negativo gera milhares, milhões de outras ideias negativas. Isso impede a pessoa de realizar qualquer ação produtiva e positiva. Ela não perde sua motivação, porém, os pensamentos negativos bloqueiam até as mais fortes tentativas de reação.

Tanto isso é verdade que, a grande maioria das pessoas com depressão severa, antes de chegar a esse ponto, decreta uma falência mental positiva, por episódios não resolvidos psicologicamente. Isso a leva a manter ideias negativas que, em muitos casos, na ânsia de acabar com medos e angústias, faz a pessoa tirar a própria vida.

Recentes pesquisas demonstram que a depressão é desencadeada pela disfunção de alguns neurotransmissores do cérebro, como a serotonina. Essa disfunção acontece, por exemplo, quando a pessoa sofre uma grande perda. Como a de um ente querido, de um emprego ou abruptamente de um relacionamento.

E qual é a postura de quem sofre essas perdas, inicialmente? Pensar negativo, culpar-se, arrepender-se. Aqueles que não conseguem lidar corretamente com a perda, aos poucos, dão início a pequenas depressões. Com o passar dos anos, o excesso de pensamentos negativos que não é ressignificado pela pessoa pode levá-la à depressão crônica.

Contraste no cérebro

Sobre o termo contraste no cérebro apresentado na pesquisa, vejo que ele não tem relação com pensar positivo e manter simultaneamente pensamentos negativos, evitando assim de se pisar no solo da fantasia. A própria pesquisadora usa o termo fantasia várias vezes, mas isso não ocorre por pensar positivo. Destina-se para aqueles que imaginam que apenas pensar positivo gera resultados positivos.

Veja que não tem qualquer relação com ter de pensar negativo para caminhar na realidade. As pessoas de sucesso, que constroem grandes coisas, são aquelas que pensam positivo. Jogam um pé nas nuvens, mas mantém o outro firme no solo sagrado terreno.

Uma pesquisa foi realizada pela Universidade de Brasília em pacientes que receberam orações de rezadeiras. As rezadeiras foram estimuladas pela pesquisa a orarem diariamente pelos pacientes, dos quais receberam fotografias e os nomes. Resultado: a fagocitose dos pacientes (processo de defesa das células do sangue que detecta corpos estranhos para combatê-los) se manteve estável, equilibrada. Para os médicos pesquisadores, isso deixou claro o poder da oração (pensar positivo). Visto que, nos demais pacientes que não receberam a oração, a fagocitose aumentou ou diminuiu. Em ambos os casos, isso pode trazer complicações aos pacientes, como infecções.

Pensamento positivo

Outro estudo da Universidade de Toronto mostrou que pessoas que veem a vida por um ângulo positivo, realmente, enxergam melhor. Para alcançar essa comprovação, os pesquisadores mostraram para os voluntários algumas imagens, capazes de despertar diferentes percepções. Enquanto as imagens eram exibidas, as atividades cerebrais estavam sendo analisadas em um exame de ressonância magnética.

As imagens exibidas eram espécies de mosaicos, formadas por um rosto humano no centro, e cercadas de imagens menores, que faziam referência a locais (como uma casa, por exemplo). Para forçar as pessoas a olharem para o centro da imagem, uma tarefa era dada a elas: identificar se o rosto na folha era de um homem ou de uma mulher.

O estudo constatou que pessoas com tendência a ver o mundo pelo lado negativo não enxergavam as imagens do plano de fundo que cercavam a face humana. Entretanto, quando a mesma imagem era exibida e as pessoas eram estimuladas a pensar positivo, a sorrir, elas melhoravam de humor. As pessoas reconheciam todos os detalhes em segundo plano da figura.

O responsável-chefe pela pesquisa, Taylor Schmitz, declarou que: “bom humor, ver a vida pelo lado positivo, aumenta, literalmente, o tamanho da janela pela qual enxergamos o mundo. A parte boa disso é que podemos ver tudo de uma perspectiva mais global e integrativa.”

Efeito placebo

O pensamento positivo é tão importante, e comprovado também pela ciência, por meio do efeito placebo. Ou seja, uma pessoa recebe um medicamento real para determinado sintoma ou doença que tem, e sua melhora é visível. Já outra recebe o placebo, que também é um comprimido, mas sem qualquer efeito. Porém, ela também melhora, quando é estimulada a acreditar que o medicamento é poderoso para curar seus sintomas ou doença.

Isso está comprovado em uma pesquisa realizada pela Universidade de Michigan, nos EUA. Lá, 50 voluntários foram testados com placebo e medicamentos reais, revelando que as pessoas com foco em ideias e pensamentos negativos tiveram menos resultado do que as otimistas e com uma visão positiva da vida.

Em outro estudo, realizado nos Estados Unidos, foram escolhidos jovens considerados superdotados depois de determinado teste. Esses jovens foram acompanhados por muitos anos e colocados em meio aos melhores professores e orientadores, além de outros profissionais experts de diversas áreas. Sempre estimulados a pensar sobre serem superdotados (pensar positivo), mantiveram uma postura de excelência.

Porém, ao fim da pesquisa, os pesquisadores revelaram aos jovens que eles não eram superdotados. E que a pesquisa consistia em medir o impacto do ambiente e da crença positiva das pessoas. A grande maioria dos jovens melhorou em grande escala seu quociente de inteligência (Q.I), além de ter se comportado como superdotado a maior parte do tempo.

Desfocar o pensamento negativo

O exemplo de como desfocar o lado negativo dos pensamentos colabora para o sucesso pode ser analisado no caso de Marjorie Desimone. Seu pai, violento, morreu quando ela tinha 8 anos. A mãe faleceu de câncer quando ela tinha 14. Morava em uma fazenda, numa região pobre de Kentucky. Com o seu desejo de entrar para uma universidade, um professor lhe disse: “esqueça a universidade, vá procurar emprego como secretária. É o máximo que irá conseguir na sua vida.”

Ela poderia ter canalizado pensamentos pessimistas, dando início à sua derrocada, e aceitado que realmente deveria esquecer a universidade. Porém, Marjorie não aceitou esses conselhos. Mais tarde, ela se formou na Duke University. Logo depois, se tornou mestre pela Harvard University e foi líder de uma companhia que figura sempre na Fortune 500, na qual aconselha futuros líderes de negócios.

Concluindo, acredito que é mais prudente usar algo como:

Pense positivo. Procure o lado bom das coisas e, juntamente com isso, crie sonhos grandes, considerando sempre eventuais obstáculos, problemas e desafios que irão surgir. Esteja preparado para sonhar Grande, e mesmo que não chegue lá, irá pra muito mais longe do que sonhar pequeno e se acomodar por ter conseguido algo que nunca te deu insônia e medo.

Em países onde o tempo todo as pessoas são pressionadas a pensar negativo, em crises, em que midiaticamente falando as desgraças sempre dão mais Ibope do que o que é positivo, acredito que não é interessante se admitir que pensar negativo pode trazer resultados positivos. Ao que parece, a ideia a ser transmitida é a de que, para sonhar grande e realizar esses sonhos, deve-se ponderar os obstáculos. Isso vai exigir um esforço extra, e encontrar e despertar sua motivação mais forte.

Forte abraço, fique com Deus, sucesso e felicidades sempre.

Prof. Paulo Sérgio é palestrante, coach e escritor.

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