Planejamento redobrado para as finanças de 2014

para 2014, economistas alertam a empresários, varejistas e consumidores cuidado redobrado: estima-se maior desaquecimento das finanças em âmbito nacional

A economia vem mostrando um cenário preocupante em meio a crises financeiras nos últimos anos, regado a altos juros e menor poder de consumo das famílias brasileiras. E, para 2014, economistas alertam a empresários, varejistas e consumidores cuidado redobrado: estima-se maior desaquecimento das finanças em âmbito nacional

Inflação e juros subindo, economia nacional desacelerando e crédito ficando cada vez mais caro. A economia brasileira promete perder ainda mais o fôlego em 2014. Este cenário exigirá manobras fiscais do Governo e de empresários do Varejo, pois os altos juros e o efeito “bolha” impactarão na queda do poder de compra do consumidor.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação reduziu a renda real dos brasileiros e pode pesar sobre o consumo, que vem segurando o crescimento da economia do País nos últimos anos. Ainda de acordo com o FMI, as eleições presidenciais em 2014 podem atrapalhar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).

Em relatório divulgado recentemente, a instituição aponta o Brasil, ao lado de Índia e Indonésia, entre os países que devem continuar com o aperto monetário, para enfrentar a continuidade de pressões inflacionárias causadas por restrições de capacidade, as quais tendem a ser reforçadas pela recente desvalorização do câmbio. O relatório também traz as estimativas do Fundo para a inflação neste ano e no ano que vem, mas considerando a variação média em cada ano. A oscilação mostra, para 2013, uma taxa de 6,3%, e para 2014, de 5,8%. Por esse critério, a inflação do ano passado ficou em 5,4%.

A economista e coordenadora de projetos da FGV/RJ e professora acadêmica da FGV Management/PR, Virene Roxo Matesco, ressalta que a previsão para 2013 é de uma economia que gira em torno de 2,4%, em relação a um desaquecimento para 2014: a estimativa é de somente 2%. Diante de um cenário socioeconômico pouco aquecido, a inflação volta, o poder de compra do assalariado cai e o consumo fica retraído.

Todo o estímulo de consumo se esgota no comprometimento de renda, no nível de endividamento das famílias – que está alto e não é de hoje. Como pano de fundo gerador da recessão econômica, mais do que a crise internacional, temos o estímulo do Governo a concessões de créditos, além da facilidade de compra dos mais diversos artigos, responsável pela formação da chamada “bolha”.

De um lado, o Governo dispõe de um déficit fiscal altíssimo. Ou seja, sua capacidade de continuar aumentando os gastos públicos diminuiu muito. A dívida bruta pública também extrapolou as estatísticas e, hoje, o Brasil é o país com maior relação dívida/PIB, dentre os emergentes. Do outro lado, o poder de consumo das famílias está chegando ao limite. O baixo nível de investimento de modo geral da economia brasileira – como ampliação da capacidade instalada nas empresas, investimento em maquinários e contratação de funcionários – está retraído e o Governo possui, atualmente, atrasos e baixa capacidade de execução em investimentos públicos, enquanto deveria investir em microestrutura. E, em ano de eleições, podemos contar que o pé no acelerador aumentará o endividamento. Em 2015, e também após a Copa do Mundo, a conta virá e pesará salgada em nosso bolso.

Contraditoriamente, as classes B e C que, nos últimos anos, obtiveram maior aumento salarial, sofreram menos consequências da política econômica global. Porém, com o retorno da inflação, até o preço do básico, que são os alimentos, já está aumentando progressivamente, e estima-se que essas mesmas classes sociais sejam – e muito – prejudicadas financeiramente.

“O cenário é muito preocupante. E associado a tudo isso, o Governo ainda perdeu credibilidade internacional. Quando se perde isso, o risco do país aumenta, as agências internacionais começam a avaliar mal o Brasil e forma-se uma ‘bola de neve’ na hora de captar recursos, pois os juros sobem”, alerta a economista. “Internamente, para contornar a situação, a saída seria manter um câmbio competitivo. A economia está fria no Exterior e estamos jogando fora várias oportunidades”, complementa.

E o poder de consumo?

Como reflexo do cenário socioeconômico, as compras de final de ano também apresentaram o nível mais baixo já registrado para esse período nos últimos sete anos.

Segundo levantamento do Provar (Programa de Administração do Varejo) da USP, feito com 500 consumidores da capital no início de setembro, somente 46,8% dos paulistanos mostraram pretensão de comprar um bem durável (geladeira, computador, celular) até dezembro deste ano. No quarto trimestre do ano passado, esse percentual era de 56%.

O resultado do comportamento do consumidor afetou a expansão do varejo neste ano – o crescimento previsto foi de 4%, ante 7,8% do ano passado. A intenção de usar crédito também diminuiu em relação ao terceiro trimestre, devido aos altos juros. A intenção de compra do consumidor é maior em itens de menor valor, como vestuário e calçados (24%) do que com produtos da linha branca (8%). Em relação a produtos eletroeletrônicos, houve uma queda de 26% na comparação do quarto trimestre deste ano com o do ano passado.

A doutora em Administração Estratégica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fabiana Thiele Escudero, compartilha da mesma opinião da economista e afirma que o cenário referente ao poder de compra do brasileiro, hoje, não é o mais otimista. A inflação está em alta e impacta em todas as classes sociais. Obviamente, consumidores de menor renda são os mais afetados, pois o que resta da sua renda mensal – e quando resta – é muito menos em relação aos demais consumidores. Temos uma inflação maior e um grau de endividamento alto do consumidor brasileiro que deve ser levado em conta.
Esses fatores ganham maior peso com a previsão de desemprego, que está aumentada para 2014 que, oportunamente, levará o consumidor a diminuir seus gastos.

O que nós, empresários e vendedores, podemos fazer?

Para o final do ano, o consumidor mostra-se igualmente disposto a consumir, mas diferenças aparecem no que diz respeito ao valor gasto: estão mais propensos a comprar presentes de menor valor do que no ano passado. No Nordeste do País, a intenção de consumo aumentou devido a programas assistencialistas, porém a perspectiva é de um consumidor mais cauteloso com seus gastos, mesmo diante dos tais incentivos de final de ano.

“Portanto, diante da situação socioeconômica brasileira em crise, a palavra de ordem para empresários e varejistas é adaptação, ou seja, é preciso mudar. A maioria das empresas continua fazendo o que sempre fez, acreditando que as ajudará a atravessar a crise, afinal sempre tiveram sucesso daquela maneira. Mas, quando a realidade as alcança, é tarde demais para reagir e a culpa acaba recaindo sobre a crise”, explica a doutora. É preciso perceber as mudanças e reagir ativamente. Para conseguir sobreviver bem a qualquer crise, é necessário fazer uma reavaliação da realidade da empresa e das estratégias adotadas, e não fazer uma mera redução de custos. O corte de verba pode funcionar em curto prazo, mas não é uma medida adaptativa e, sim, uma medida reativa”.

Ela ainda alerta que o sucesso pode acontecer mesmo em meio à crise, mas é preciso muita criatividade, capacidade de inovar e de traçar novas estratégias. A crise não deve ser encarada como um momento de redução, mas como um momento que traz uma realidade diferente e que demanda uma reavaliação completa do posicionamento, planejamento e funcionamento das empresas.

O sucesso pode acontecer mesmo em meio à crise, mas é preciso muita criatividade, capacidade de inovar e de traçar novas estratégias.

“Lembrando que isto precisa ser feito de maneira estruturada, planejada e respeitando a visão da empresa, não um processo caótico, reativo e que visa somente sobrevivência”, complementa.

O comportamento do consumidor é bastante complexo e sua variação não se deve somente a um momento de retração, mesmo que influenciado fortemente pela economia. Independentemente de uma desaceleração possível no consumo, é preciso lembrar que diversas empresas conseguem crescer durante estes momentos. Basta se preparar e não ficar esperando maneiras de se proteger.

Para os vendedores, é um momento difícil que separa os bons dos razoáveis. Assim como a empresa precisa se preparar estrategicamente para enfrentar um momento de recuo, o vendedor precisa se preparar mais ainda. Existe o lado bom de toda dificuldade: o vendedor vai adquirir mais experiência e desenvolver novas habilidades. Mas o que é preciso fazer para sobreviver? Ironicamente, o mesmo que a empresa: adaptar-se.

“É preciso aprender sobre o consumidor novamente – o atual, endividado – questionar tudo aquilo que ele acha que sabe muito bem, pois um consumidor em uma realidade diferente é um consumidor diferente. O bom vendedor precisará olhá-lo com novos olhos, entendendo quais seus novos desejos e novas necessidades. Talvez ele seja mais cauteloso, talvez exija um tratamento diferenciado e mais pessoal: é preciso observar”

Uma maneira de se preparar também é por meio do treinamento, que deve ser feito antes que este momento chegue “com tudo”. Mesmo para aqueles que trabalham em um ramo há muitos anos com sucesso, é preciso se questionar e atualizar. Só assim ele terá diferentes ferramentas para driblar a mudança.

A motivação dos vendedores é um ponto importante e a empresa deve se lembrar de incluir esta preocupação em um planejamento para os momentos difíceis. Uma empresa que se prepara e prepara seus colaboradores terá muito mais chances de usar um momento destes em seu favor, dando a certeza de que estava preparada para ganhar o mercado, neste momento, que será perdido por aqueles que não se prepararam.

E você, o que planeja fazer para contornar o desaquecimento econômico em 2014? Mande sua sugestão para [email protected].

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