Sem medo de ser feliz

Flávio Gikovate diz que é possível ser feliz Um dos mais conceituados psicoterapeutas em atividade no Brasil lançou recentemente o livro Dá pra Ser Feliz…Apesar do Medo, pela MG Editores. Nessa obra, Flávio Gikovate revela que o medo da felicidade é um inimigo interno a ser combatido.

Médico formado pela USP, em 1966, Gikovate se dedicou ao trabalho de psicoterapia desde o início da carreira. Além de conferencista bastante solicitado, seus livros já venderam mais de 500 mil exemplares. O autor é conhecido pela facilidade em tratar, com linguagem clara e acessível, as questões e os problemas que afligem os relacionamentos pessoais e interpessoais. Gikovate reforça a importância do autoconhecimento para melhorar o relacionamento das pessoas consigo mesmas e para superar os conflitos no convívio pessoal, profissional e afetivo.

Flávio Gikovate concedeu uma entrevista exclusiva à Motivação sobre seu novo livro. Confira o que ele nos contou e descubra como viver sem medo de ser feliz.

Por que as pessoas têm medo do que mais desejam: a felicidade?

Porque a felicidade provoca uma sensação de medo, como se alguma tragédia estivesse prestes a acontecer e fosse desencadeada justamente pelo fato de se estar feliz. O pensamento supersticioso tem origem nesse medo. Expressões do tipo: ?Está bom demais?, ?isso não pode durar?, ?estou morrendo de felicidade?, denunciam a presença do medo. O que fazemos? Acabamos por desviar a rota de modo a evitar a felicidade com o intuito de nos precaver da eventual tragédia (que, felizmente, não acontece). Felicidade não mata.

Quais são os prejuízos de desviar a rota e gastar tempo e energia sofrendo, por meio da imaginação, por situações que talvez nem aconteçam?

Todo o tempo gasto com sofrimentos passados, e que muitas pessoas têm dificuldade de “digerir”, assim como sofrer com o que supomos que possa vir a acontecer, diminui o tempo que temos para vivenciar a felicidade. Assim, uma das condições para ser feliz é exatamente a capacidade de superar logo os fatos negativos inevitáveis e também de não sofrer por antecipação. A verdade é que a imaginação sempre amplifica as dores (e também os prazeres). Na vida real, os sofrimentos são sempre menores do que aqueles que imaginamos e o mesmo acontece com as coisas boas.

Há pessoas que não conseguem a felicidade justamente pelo medo de ser feliz?

A maior parte das pessoas se afasta, como eu disse, da felicidade com o objetivo de preservar a vida. Parece mesmo que elas sentem que ser feliz provocará enormes tragédias. O que mais desencadeia esse mecanismo é a felicidade sentimental, de modo que a maior parte das pessoas foge das relações amorosas aconchegantes e de boa qualidade, dando preferência para aquelas em que predominam as tensões e as brigas.

O que fazer para enfrentar isso? Quais são os requisitos básicos para vencer o medo?

É preciso saber que esse medo existe e que ele é quase universal. Provavelmente tem a ver com o trauma do nascimento: estávamos ótimos no útero. E o que aconteceu? Fomos expulsos de lá. Parece que se forma um reflexo condicionado, de modo que sempre que estivermos ótimos de novo (especialmente no amor, que tem a ver também com o aconchego uterino) parece que haverá um novo big-bang, agora nos levando à morte. Todo medo se vence por meio da consciência de sua existência e pelo estabelecimento de uma estratégia de enfrentamento progressiva, gradual. Assim, também se deve fazer com o medo de ser feliz: arriscar cada vez mais para ver se a felicidade mata ou se vencemos o medo, avançando em direção a uma vida de acordo com o que queremos.

Apesar de conseguir ser feliz, existem os momentos difíceis e delicados. Como superar os momentos de infelicidade?

A boa tolerância em relação às contrariedades e sofrimentos é decorrência de um amadurecimento emocional. Dessa forma, as pessoas que pretendem se encontrar com a felicidade terão de fazer esse avanço, suportando com docilidade as inevitáveis dores da vida.

Como o senhor chegou a todas essas constatações a respeito da felicidade?

Trabalho em clínica, atuando, principalmente, com técnicas breves de psicoterapia há 40 anos e, nesse tempo, atendi cerca de 8 mil pacientes. Assim, sou um médico prático que trabalha com os clientes de forma direta. É do convívio com eles que extraí quase tudo o que sei.

Quais são os maiores erros cometidos pelas pessoas ao buscarem a felicidade?

Buscar um tipo de felicidade que chamo de aristocrática: achar que dinheiro em excesso, beleza, magreza e fama são os ingredientes da felicidade. É um erro porque essas propriedades só poderão fazer parte do repertório de um número mínimo de pessoas, condenando à infelicidade mais de 99% da população. Prefiro pensar na felicidade relacionada com um bom relacionamento amoroso, com o desfrute dos prazeres intelectuais de todo o tipo, com a evolução moral, com o deleite dos prazeres sexuais e corpóreos de caráter não competitivo (dança, corridas). É claro que o dinheiro tem sua importância, mas serve principalmente para nos ajudar a sair de situações dolorosas, como no caso de doenças, de fome ou mesmo na falta de uma boa casa.

E como conseguir a felicidade à qual o senhor se refere?

Para conquistá-la, existe a necessidade de avanços interiores e eles estão fortemente ligados, também, à disciplina e ao esforço que cada um de nós deve fazer para conseguir crescer emocionalmente. Disciplina implica na existência de uma determinação forte, que nos leva em direção daquilo que queremos. Como ser feliz é parte daquilo que mais queremos, ter essa determinação e a força de persegui-la continuamente é essencial. A felicidade não cai em nosso colo, não vem de graça, é preciso batalhar por ela.

Para saber mais: www.flaviogikovate.com.br

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