Ser e estar

Tenho observado com cautela o comportamento das pessoas. Parecem tomadas por um imediatismo em defesa de interesses de curto prazo, como se estivessem desconectadas do organismo social. Tenho observado com cautela o comportamento das pessoas. Parecem tomadas por um imediatismo em defesa de interesses de curto prazo, como se estivessem desconectadas do organismo social.

Políticos fazem alianças incongruentes em troca de alguns minutos no horário eleitoral, independentemente da dissonância ideológica e pragmática em caso de êxito no pleito. Profissionais prejudicam colegas em lances engendrados nos corredores, em busca de uma promoção ou aumento de salário. Amigos de anos capitulam nos momentos mais críticos, negligenciando apoio. Familiares desagregam-se ao primeiro sinal de dificuldade econômica. Pais apregoam a ética, enquanto ultrapassam veículos pelo acostamento no final de semana, tendo os filhos por testemunhas.

Há uma inversão dos valores, da ética, da moral, do caráter. As pessoas deixam de ser o que sempre foram e passam a estar o que lhes convém.

Valores Valores são definidos como normas, princípios, padrões socialmente aceitos. São-nos incutidos desde cedo. Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo. Por isso, esta luta trata-se de litigar paradigmas. Criar e difundir novos. Não esmorecer, mesmo sentindo a mente turva. E quando se tem o horizonte enevoado, é preciso olhar para trás para manter o rumo. A vida, disse Kierkegaard, só pode ser compreendida olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida, olhando-se para frente.

Caráter Um homem íntegro preocupa-se mais com seu caráter do que com sua reputação, pois sabe que caráter representa aquilo que ele é, enquanto reputação, aquilo que os outros pensam. O caráter testa-se em pequenas coisas. Num olhar, num gesto, numa palavra. Há um provérbio dos índios norte-americanos que diz: “Dentro de mim há dois cachorros: um deles é cruel e mau, o outro é muito bom. Os dois estão sempre brigando. O que ganha a briga é aquele que alimento mais freqüentemente”.

Caráter é destino. E o destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha. Não é uma coisa que se espera, mas que se busca. Mudança As pessoas não resistem às mudanças, resistem a ser mudadas. É um mecanismo natural de defesa. Insistimos em tentar impor mudanças, quando o que precisamos é cultivar mudanças.

Segundo William James, a maior descoberta da humanidade é que qualquer pessoa pode mudar de vida, mudando de atitude. Talvez por isso a famosa Prece da Serenidade seja tão dogmática: mudar as coisas que podem ser mudadas, aceitar as que não podem, e ter a sabedoria para perceber a diferença entre as duas.

Tolerância Aprendi a deixar para trás as coisas que não preciso carregar, como ressentimentos e decepções. As pessoas, via de regra, não estão contra mim, mas a favor delas. Por isso, deixei de nutrir expectativas a respeito das pessoas. Atitudes insensatas não mais me surpreendem.

Por tudo isso, é preciso tolerância. É preciso também flexibilidade. Mas é preciso fundamentalmente policiar-se. Num mundo dinâmico, é plausível rever valores, adequar comportamentos, ajustar atitudes. Mantendo-se a integridade.

Tom Coelho é formado em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP, é empresário, consultor, professor universitário, escritor e palestrante. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite o site: www.tomcoelho.com.br “Às vezes penso, às vezes sou” – Paul Valéry

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