Somos maus amantes

Somos maus amantes Primeiro é a agradável surpresa pelo convite de participar do chamado processo seletivo. Cuidadosamente, você se prepara para a entrevista inaugural. Busca informações sobre a empresa ? história, valores, produtos e serviços comercializados ? e sobre seu mercado de atuação ? conjuntura atual, cenários e ações da concorrência.

No dia da conferência, você coloca a sua melhor roupa e procura chegar antes do horário agendado. No local marcado, outras pessoas, também vestindo os seus melhores trajes, e, talvez, igualmente preparadas, aguardam com ansiedade similar.

É possível que uma atividade denominada ?dinâmica de grupo? seja imposta a você e aos demais candidatos ao cargo, divididos entre os descontraídos, os nervosos e os armados com respostas prontas e pasteurizadas. Uma ou mais entrevistas individuais posteriores elevam o nível de tensão. Nelas, você é submetido a vários testes e também testemunha grandes planos para o desenvolvimento da corporação ? e da sua carreira.

Após trilhar esse percurso, você recebe um telegrama, no fim de uma tarde de sexta-feira, comunicando de sua admissão naquela companhia. Quanta alegria! O final de semana é eletrizante e dormir no domingo à noite é missão quase impossível.

Seu primeiro dia é movimentado. Você recebe senha e crachá, conhece seu local de trabalho, as instalações da empresa e é apresentado a algumas pessoas. E termina o expediente ainda muito entusiasmado, mas com a impressão de que sobrou objetividade e faltou atenção, receptividade e hospitalidade.

Os meses passam, e as novidades se convertem em rotina; as expectativas, em frustração; a dedicação, em desânimo. Você passa a questionar onde está a empresa que lhe contratou e o que se perdeu pelo caminho. Os dias tornam-se longos, e o horário de partir custa a chegar.

Ao mesmo tempo, a companhia passa a indagar sobre o seu comportamento, suas ações e, em especial, sobre os resultados decorrentes de seu trabalho. E, nos bastidores, você pode ser visto como negligente, omisso e desinteressado.

As empresas investem recursos e tempo em pessoas altamente qualificadas para selecionar um profissional, mas não promovem sua real integração ao grupo. Precisam de pós-venda, necessidade que, talvez, se manifeste na prestação de seus próprios serviços.

Já os profissionais se deixam abater pelos eventos e transferem às corporações a culpa pela sua perda de motivação, esquecendo a perda do incentivo, do brilho no olhar e da razão de ali estar é uma responsabilidade pessoal.

A verdade é que somos maus amantes. Trabalhamos muito, lutamos conquistar determinadas coisas, mas somos incompetentes para mantê-las e desenvolvê-las. Perdemos a capacidade de nos apaixonar pelas coisas que fazemos ? e pelas pessoas que conhecemos. Entregamo-nos aos hábitos, regras, normas e convenções. E assim permitimos que os relacionamentos despeçam-se da emoção, as refeições declinem do aroma e do sabor e a vida perca a cor.

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