Tem gente aĆ­?

Os sistemas de auto-atendimento tĆŖm se tornado foco de investimentos das empresas. Mas os resultados nĆ£o seriam melhores com pessoas no atendimento? Os sistemas de auto-atendimento sĆ£o uma realidade inquestionĆ”vel e tĆŖm se tornado o foco de investimentos das empresas. Mas sĆ£o extremamente irritantes quando deixam de cumprir o papel de esclarecer de verdade as dĆŗvidas ou insatisfaƧƵes dos clientes, em relaĆ§Ć£o aos produtos e serviƧos. O problema mais grave no processo de auto-atendimento, quando se trata de marketing de relacionamento com o cliente, Ć© a falta de alternativa para a necessidade real que motivou o contato.

Ɖ perigosamente comum que a dĆŗvida ou reclamaĆ§Ć£o a ser apresentada nĆ£o esteja entre as alternativas que a empresa considera como as mais relevantes. E as queixas contra o serviƧo acabam se avolumando, ganham corpo e se espalham nos bate-papos. Manter gente no atendimento Ć© mais caro, entretanto pode surtir resultados importantes.

NĆ£o se pretende, aqui, subestimar a agilidade proporcionada pelo auto-atendimento. Ele funciona, e muito bem, para boa parte das questƵes pontuais. Se, por exemplo, o cliente quiser uma segunda via da conta de luz, telefona para o 0800, tecla a alternativa correta, digita seu cĆ³digo e dois, trĆŖs dias depois recebe a fatura. Ou pode entrar no site da prestadora de serviƧos, ir ao campo certo, imprimir a conta e fazer o pagamento. O que acontece Ć© que a maioria das empresas prefere manter debaixo do tapete o grande nĆŗmero de reclamaƧƵes as quais sinalizam estar despreparadas para dar soluĆ§Ć£o rĆ”pida. Isso gera um nĆ­vel de irritaĆ§Ć£o muito alto na clientela.

Outro ponto crĆ­tico Ć© que o cliente acaba tendo a percepĆ§Ć£o de que o auto-atendimento Ć©, na verdade, uma barreira de proteĆ§Ć£o contra o que considera falhas internas das companhias. O usuĆ”rio sente que tentam vencĆŖ-lo pelo cansaƧo, atĆ© que desista de reivindicar atenĆ§Ć£o. Colocar Ć  disposiĆ§Ć£o um serviƧo que encara como miudezas as necessidades dos clientes Ć© uma imprudĆŖncia, atĆ© porque uma interaĆ§Ć£o mais abrangente pode municionar a empresa no sentido de aprimorar ou criar produtos. Ɖ nos detalhes que se vai lapidando a oferta, e ninguĆ©m melhor que o consumidor para revelar o que precisa ser feito. O contato direto pode ser, em muitos casos, mais eficiente e surpreendente do que uma pesquisa, quase sempre encomendada a partir da Ć³tica das prĆ³prias empresas, que se enxergam como supra-sumo da competĆŖncia. Nem sempre Ć© assim.

O auto-atendimento mede a incidĆŖncia de situaƧƵes jĆ” previstas, mas limita a coleta de informaƧƵes preciosas. Seria interessante que se fizesse uma pesquisa entre os funcionĆ”rios das empresas sobre o nĆ­vel de satisfaĆ§Ć£o obtido, quando necessitaram recorrer a serviƧos de auto-atendimento fora do ambiente de trabalho.

Uma sugestĆ£o interessante Ć© manter um serviƧo de atendimento com material humano selecionado e bem treinado, profissionais com sensibilidade para entender o papel estratĆ©gico que desempenham para a organizaĆ§Ć£o. O atendimento tambĆ©m perde eficĆ”cia quando sĆ£o impostas fortes limitaƧƵes aos atendentes. Os clientes ficam possessos ao perceber que conversam com alguĆ©m cuja autonomia Ć© minimamente superior Ć  de uma gravaĆ§Ć£o. Em se tratando de call center terceirizado, cabe estabelecer meios de fiscalizaĆ§Ć£o e acompanhamento da forma como a imagem da empresa estĆ” sendo tratada. Os dados obtidos no contato direto com os clientes precisam ser disseminados, discutidos entre as lideranƧas e incorporados Ć  cultura da empresa, integrando processos e departamentos que teimam em funcionar como nichos.

Entre discagens e cliques no mouse, o marketing de relacionamento tem muito a ganhar com a utilizaĆ§Ć£o criteriosa de recursos humanos. Cativar, no melhor dos sentidos, Ć© coisa que deve ser feita por gente.

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