Transforme crises em oportunidades

Aproveite os momentos turbulentos para aprender e evoluir

Crise! Só de pensar nessa palavra já dá medo. E não é para menos. Afinal, nos últimos meses, temos vivenciado várias situações, como: caos econômico, enchentes, seca, grandes acidentes, etc. São muitos os exemplos de empresas que, recentemente, tiveram grandes perdas em função desses acontecimentos. Sendo assim, seria óbvio pensar que todos nós deveríamos estar aptos a sobreviver diante de uma crise, mas será que estamos? Você se sente preparado para lidar com uma crise em sua empresa? Certamente, muitas pessoas responderão negativamente a essa pergunta. Por isso, preparamos uma matéria especial que lhe ajudará a saber o que fazer caso sua companhia passe por uma crise e ainda como transformá-la em oportunidade de crescimento!

Fracassar ou evoluir

Apesar do caráter negativo da crise, muitos especialistas acreditam que ela deve ser vista de forma positiva, como uma oportunidade de aprendizado, mudança e evolução. “Se a encararmos como um momento de transição, veremos que chegamos a um ponto de decisão: evoluir ou fracassar. Vamos supor que a empresa perdeu seu maior cliente, que representava 70% da receita. Podemos organizar reuniões para procurar culpados, enquanto a companhia caminha para a falência, ou reconhecer que estávamos acomodados e dependentes de um único consumidor, e partir em busca de novos mercados e clientes”, explica Milton Roberto de Almeida, especialista em planejamento estratégico e gestão de recursos de defesa pela Escola Superior de Guerra (ESG) e consultor de marketing e desenvolvimento organizacional, além de membro instituidor da Fundação de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra (FAEPE). Ele ressalta que sair de uma crise pode não ser fácil, exige trabalho duro e requer mudanças nas formas de pensar e agir, mas é o momento de recomeçar.

David Carlessi, consultor do IDORT/SP, especialista em treinamentos comportamentais e desenvolvimento de habilidades e atitudes gerenciais, concorda e acrescenta que toda crise, mesmo as tragédias, traz oportunidades. Tudo depende de como nos posicionamos diante dela. “Se quisermos, podemos ficar do lado do choro, vitimização e depressão. É uma escolha! No entanto, se aproveitarmos para descobrir novas possibilidades de reposicionamento no mercado, carreira, trabalho, conhecimentos, habilidades e valores que desconhecíamos em nós, é bem provável que a crise será a oportunidade de ‘ouro’ que não estávamos enxergando”. David cita o exemplo de profissionais que, ao serem demitidos, são obrigados a fazer escolhas que não fariam se estivessem no conforto de uma empresa, e acabam percebendo que a demissão foi a melhor coisa que aconteceu em suas vidas. Há pessoas que passam anos em uma organização e se desesperam com a demissão, mas a situação as obriga a buscarem outras possibilidades, e não é raro ver gente que se descobre muito mais satisfeito.

Oportunidade – A coisa mais importante a saber sobre as crises não é o significado dessa palavra ou as principais características dessas situações, e sim que elas podem se transformar em oportunidades. O segundo ponto é entender que você pode aprender muito ao passar por uma crise. Pode descobrir que precisa melhorar seus conhecimentos, habilidades e atitudes e valorizar mais a família, amigos e saúde, seja física, mental, emocional ou espiritual. “Também é possível aprender que o segredo do sucesso e superação desses momentos está no tipo de postura e visão que se adota diante do mundo e pensamento que constrói para si – o que atrairá coisas boas ou más. São escolhas pelas quais somos responsáveis”, acrescenta David.

Outro aprendizado importante é que você se tornará muito melhor depois de uma crise, pois terá mais experiência e maturidade. “A educação acadêmica pode nos proporcionar muitos conhecimentos, mas somente vivenciando as situações é que adquirimos experiência. Para quem costuma pensar no que fez, em que acertou e errou, como evitar futuros erros, que conhecimentos tinha e quais novos necessita, as crises são excelentes momentos de aprendizagem – muitas vezes, difíceis e doídos, mas de evolução”, diz Milton.

Mãos à obra!

Agora que você sabe que as crises podem ser oportunidades de crescimento e aprendizado, é hora de descobrir qual deve ser a postura de um funcionário quando a empresa se vê diante dessa situação. De acordo com Roberto Shinyashiki, médico-psiquiatra com pós-graduação em gestão de negócios, consultor, palestrante e autor de diversos livros, o colaborador deve entender que existem três cenários clássicos em um momento de crise, confira:

1. A crise em si. Nesse caso, todos os seus atos podem ter consequências graves. Então, durante esse período, tenha muito cuidado com suas ações, pois qualquer passo em falso pode ser ainda mais prejudicial.

2. Na maioria dos casos, a empresa deve continuar funcionando, ou seja, você não pode parar, por exemplo: num problema com recall de produtos, caso não trabalhe no setor responsável por essa ação, suas tarefas devem continuar sendo realizadas normalmente.

3. A imagem da companhia precisa ser preservada. Independentemente da crise, procure tranquilizar os clientes, fornecedores e sociedade. Sempre que estiver em contato com outras pessoas preserve a imagem para não piorar a situação.

Shinyashiki explica que é fundamental você entender qual é seu papel na situação que a empresa estiver passando, ou seja, se faz parte da equipe responsável por cuidar do plano de gestão da crise, realize tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar a administrar a situação. Agora, caso não esteja nesse grupo e recebeu ordens para dar continuidade ao seu trabalho, faça isso, e da melhor maneira possível. Aliás, sua dedicação deve ser ainda maior em tempos turbulentos. “O colaborador deve se alinhar e comprometer-se com a companhia para ajudá-la a enfrentar a crise. Tem de procurar entender as razões e oferecer sua contribuição. É claro que a atuação de um funcionário diante dessa situação vai depender da posição hierárquica que ocupa, no entanto, todos podem contribuir”, avisa David.

E se a empresa não tiver um plano de ação? – Sugira a criação imediatamente. “Um plano é um guia de ação que determina o que a companhia deverá fazer, dentro de circunstâncias previsíveis, para sair do ponto onde se encontra e chegar a uma determinada posição futura. Sem um plano estratégico adequado, dificilmente uma organização seguirá corretamente em direção a seus objetivos com a utilização correta dos recursos”, afirma Milton, ressaltando que a criação desse plano pode ser sugerida por qualquer funcionário preocupado com a segurança e desenvolvimento dos negócios da empresa.

Normalmente, essa iniciativa deve partir de profissionais da alta administração, mas, independentemente de hierarquias, todos podem sugerir a elaboração de uma estratégia para gerir a crise. David lembra, inclusive, que são profissionais de cargos mais baixos, mas que estão em contato direto com clientes e fornecedores, que, muitas vezes, percebem os primeiros sinais do mercado. E, nesse caso, ficar calado é um grande risco. “Todo empregado que notar que a crise está para se instalar ou se instalando precisa e deve lançar sinais de alerta e mobilizar as pessoas para que as medidas sejam tomadas. Mesmo que sejam indivíduos sem função de liderança, é preciso que tomem essa iniciativa e alertem os líderes, não com opiniões ou críticas, mas com fatos concretos que mostrem a realidade”.

Então, desenvolva a capacidade de prever crises, pois apesar de muitas delas acontecerem de forma inesperada, algumas podem ser previsíveis. Esteja preparado para antever os sinais de perigo, tomar decisões e agir corretamente. “Essas qualidades podem ser desenvolvidas através da aquisição de conhecimentos que ampliem a visão estratégica, percepção e compreensão da dinâmica dos sistemas que interagem no mercado”, diz Milton.

Melhore sua capacidade de gerar resultados

Durante as crises, uma das primeiras coisas com que os profissionais se preocupam é com o corte de funcionários. Para os especialistas consultados nesta matéria, a única arma contra isso é a competência. “Quando as empresas cortam, elas tiram os incompetentes. Então, é preciso ser o mais competente possível para manter o emprego”, ressalta Shinyashiki.

Não tem outro jeito, se você quer diminuir suas chances de ser demitido, deve aumentar seu valor no mercado de trabalho, elevar seus conhecimentos e habilidades e agregar valor em todas atividades que realizar. Também é fundamental conversar com seus líderes para saber em que precisa melhorar. “Converse, de forma franca, com seus superiores hierárquicos e pergunte como pode contribuir para aumentar as vendas, aperfeiçoar o trabalho, atender melhor aos clientes, errar menos e assim por diante. Também atualize seu currículo com cursos diversos e estude muito, sempre”, explica Milton.

Caso não esteja preocupado, achando que está imune a todos os problemas, confira o que diz David: “Dois grandes erros podem ser cometidos por um profissional: primeiro, acreditar que a crise não vai atingi-lo, que está protegido dela por estar numa ‘empresa segura’ ou ocupar um ‘cargo seguro’. Segundo, achar que não tem nada a ver com isso, que a solução da crise está nas mãos da direção ou de outras áreas e não pode nem deve ‘se meter nesse assunto’ – esses erros podem custar muito caro à organização ou ao profissional”.

Controle as emoções – Nas crises, o clima organizacional também costuma ser prejudicado, pois as pessoas ficam nervosas, ansiosas e tensas. No entanto, controlar suas emoções e comportamentos é fundamental, pois, nesses momentos, o mercado se torna mais competitivo e inseguro. “Para reduzir o nervosismo, ansiedade e tensão, é preciso que os profissionais eliminem o medo de perder o emprego e invistam na prática da gentileza com os companheiros, bom relacionamento com a chefia e encantamento dos clientes. E, o mais importante, não devem dar ouvidos a boatos infundados, procurando verificar se aquilo que ouve é verdadeiro”, aconselha Milton.

Marcelo Peruzzo é taxativo sobre lidar com as emoções: “Vence aquele que sabe controlar os sentimentos. O profissional que se envolve emocionalmente pela crise é alvo fácil devido a sua fraqueza. Na hora da dispensa, é figura preferida”, afirma o CEO do IP2 Outsourcing e professor da FGV Management nos cursos de gestão empresarial, marketing, marketing pessoal e industrial, além de autor de vários livros sobre marketing pessoal e relacionamento.

Atitudes que a empresa deve ter

Na opinião de David, as organizações precisam estar preparadas para compartilhar os problemas e soluções durante e após a crise. O especialista levanta duas questões importantes, confira:

1. Num momento de crise, a direção de muitas companhias tende a escondê-la, como se os empregados não soubessem que ela está ocorrendo ou para ocorrer. Muitas vezes, eles a sentem até mesmo antes de os dirigentes se darem conta dela. Por isso mesmo, os colaboradores têm de ser tratados como pessoas adultas que podem encará-la. A pior coisa que pode ocorrer é os funcionários sofrerem os efeitos da crise e não terem sido convidados a ajudar a enfrentá-la. É preciso que a direção da empresa tenha uma atitude mais inclusiva e participativa tanto para os bons quanto para os maus momentos. Afinal, usando um velho ditado, verdadeiro, mas pouco aplicado, “estamos todos no mesmo barco”.

2. Superada a crise, é preciso que haja reconhecimento e agradecimento para todos os que ajudaram na superação. Muitas vezes, passada a crise, volta-se ao ritmo normal e se esquecem os empregados que colaboraram, sacrificaram-se, interessaram-se e comprometeram-se com a organização.

Crise econômica

Sem dúvida, a crise econômica tem tirado o sono de muita gente. Menos crédito, renda, consumo e, consequentemente, menos dinheiro girando no mercado, mas será que ela também pode prejudicar sua vida profissional?

Segundo Marcelo, quem estiver preparado e for estrategicamente importante para a empresa pode ficar mais tranquilo. Agora, quem conseguiu uma oportunidade de mercado apenas devido ao excesso de demanda do primeiro semestre de 2008 e não tem qualificação é bom se preparar para tempos difíceis. “Cortes acontecerão, sem dúvida. Aquele que fica é o que faz a diferença. Quem sai não faz falta. É hora de se desdobrar e fazer mais pela companhia. Os tempos de excesso de demanda, em que as coisas aconteciam praticamente de forma automática, definitivamente acabaram. Agora, para dar resultado, tem de se trabalhar muito, com competência e qualidade”, alerta.

Na opinião de Milton, ninguém sai ileso de uma crise, por menos que ela nos atinja, mas é uma fase de transição: “Poderemos ter coisas ruins como as demissões, mas o enxugamento dos quadros funcionais exigirá maior eficácia de trabalho, o que gera mais lucro e, em breve, nova fase de crescimento econômico”. Agora, o que você não pode é se desesperar. “Pedir demissão em períodos de recessão é um erro. Não é hora de colocar a emoção acima da razão e, por questões pessoais, abrir mão de uma colocação profissional. A dica é: cuide de seu cargo como um tesouro”, aconselha Marcelo.

David dá as seguintes sugestões para você ficar mais tranquilo em relação a seu emprego: “Prepare-se para as novas condições de mercado, mantenha, por mais esforço que isso represente, uma reserva financeira para esses momentos, adote uma postura de empregabilidade, isto é, seja alguém que a empresa e o mercado queira, mantenha o nível de formação educacional sempre atualizado e trabalhe com fatos reais, não com fantasias e achismos”.

5 dicas para transformar crises em oportunidades

1. Entenda qual é seu papel na situação em que a companhia estiver passando.
2. Comprometa-se com o sucesso de sua empresa e dê seu melhor.
3. Aprimore seus conhecimentos, habilidades e atitudes.
4. Aja com serenidade e saiba controlar suas emoções.
5. Aprenda com os momentos difíceis.
 


Para saber mais:

Visite os sites:

Marcelo Peruzzo – www.ip2mkt.com.br
Milton Roberto de Almeida – www.complexdecision.blogspot.com
David Carlessi – www.idort.com
Roberto Shinyashiki – www.shinyashiki.com.br

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