Uma mulher de fibra

Ela não é comum e não faz a mínima questão de ser. Nunca freqüentou uma escola de Administração e criou uma das maiores empresas de cuidados para a pele e rosto do mundo. Ela não é comum e não faz a mínima questão de ser. Nunca freqüentou uma escola de Administração e criou uma das maiores empresas de cuidados para a pele e rosto do mundo. Ela não aceita as regras caso essas não levem em consideração os seus valores. Não tem medo de cara feia e tem um enorme respeito pelo mundo e pela humanidade. Um exemplo perfeito para homenagear o Dia Internacional das Mulheres.

Anita Roddick nasceu na Inglaterra e é a proprietária da The Body Shop (ainda sem previsão para ter uma franquia no Brasil) que vende produtos de extrema qualidade, eficientes e o mais importante, socialmente responsáveis. Cresceu ouvindo a mãe dizer sempre ?Seja especial. Seja qualquer coisa, menos medíocre?. E assim ela o fez.

Tudo começou em 1976, quando, depois de três anos gerenciando uma pensão e um restaurante, Anita e seu marido Gordon concluíram que estavam exaustos e que era preciso mudar. Ela decidiu que queria montar uma loja, de qualquer coisa. Tinha apenas uma idéia que a agradava: o tratamento de pele talvez fosse algo mais fácil, pois poderia aprender tudo o que fosse necessário lendo, pesquisando e perguntando.

Quando foi a um banco negociar um empréstimo para abrir a primeira loja, trajava roupas para lá de informais e estava acompanhada das duas filhas, que vestiam jeans e camisetas do Bob Dylan. Explicou ao gerente que tinha um ótimo projeto e precisava de 4 mil libras. Saiu sem nada. Frustrada, contou ao marido o que acontecera e, uma semana depois, voltaram ao banco, sem as filhas, vestidos formalmente e com um projeto perfeitamente encadernado. Resultado: conseguiram o empréstimo.

Assim, a primeira The Body Shop foi aberta em Brighton, exatamente entre duas agências funerárias. Era o que o dinheiro podia pagar. Para piorar, as paredes eram tão feias e mofadas, que a única cor que poderia cobri-las era um tom de verde escuro. Ou seja, a escolha foi mais uma necessidade do que uma opção que valorizasse o movimento ecológico. Em todo caso, a cor vingou. O fato é que a atmosfera entre duas funerárias não era das melhores para vender cosméticos, e ela criou o hábito de borrifar no ar um perfume pelas ruas, desde o momento em que estacionava o carro, até a entrada da loja.

A essa altura, ela já poderia até se sentir desmotivada, mas Anita não aceitou uma derrota tão previsível. Escolheu os frascos para servirem de embalagens: de plástico, os mais baratos que encontrou, parecidos com os usados em hospitais para coletas. Pior do que isso, como não podia comprar uma grande quantidade, pedia aos seus clientes que da próxima vez trouxessem os frascos vazios para que ela os enchesse novamente, criando, mais uma vez num misto de necessidade e intuição, o conceito de refil para cosméticos.

Entre tantas batalhas, Anita é hoje uma empresária bem-sucedida. São quase 2.000 lojas servindo mais de 84 milhões de consumidores em 24 diferentes idiomas. Seus conceitos de marketing não são usuais. Seu jeito de fazer negócios prioriza princípios e valores, e não o lucro. E seu exemplo deixa apenas dois, porém importantes, conselhos para os empreendedores: seja oportunista e apaixone-se pelas suas idéias. Afinal, as pessoas não querem apenas comprar um produto, querem também ter simpatia pela empresa.

Desde o início, a The Body Shop foi formada com critérios bem definidos de atuação, com uma missão e visão inovadoras para a época. Eliminou-se qualquer possibilidade de utilização de produtos testados em animais (muito comum na área de cosméticos), que não tivessem reflorestamento da matéria-prima, que utilizassem o trabalho infantil, que agredissem qualquer trabalhador ou o colocassem em situações de alto risco, que não fosse biodegradável ou reciclável e assim por diante.

Uma campanha realizada pela The Body Shop, entre tantas de sucesso, vale a pena citar aqui para entendermos o quão envolvida a empresa está com os valores sociais: ela utiliza a carreta de seus caminhões, não para fazer propaganda de seus produtos, mas sim incentivar as pessoas a se engajarem em campanhas sociais e acreditarem no seu poder de mudarem o mundo, ou para colocar fotos de crianças desaparecidas. Uma lição de empreendedorismo atrelado a um enorme sentimento social e a busca pelo fim das desigualdades, do desrespeito com a humanidade e com o nosso planeta.

?Se você acha que é muito pequeno para fazer a diferença, então nunca esteve na cama com um mosquito? ? Campanha veiculada nas carretas dos caminhões da The Body Shop

Frase: ?A verdadeira criatividade, aquela que é responsável pelas grandes mudanças na nossa sociedade, sempre contraria as regras? ? Richard Farson

Artigo extraído e adaptado da revista Mulher & Carreira. Visite o site: www.mulherecarreira.com.br

Para saber mais: Meu Jeito de Fazer Negócios, de Anita Roddick (Negócio Editora). Site pessoal: www.anitaroddick.com

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