Valorizando o Brasil pelo design de seus produtos

Por que muitos de nossos produtos, apesar de terem qualidade, autenticidade e tradição, não conseguem receber um tratamento melhor em sua apresentação visual? A globalização ? e a conseqüente abertura de nosso mercado à importação de produtos ? trouxe às gôndolas dos supermercados uma série de produtos cujas embalagens têm chamado a atenção dos consumidores por seu visual de “mercadoria importada”. Ao analisarmos o significado desta chancela, atribuída aos produtos que aqui chegam, percebemos claramente que o consumidor está estabelecendo um padrão e automaticamente utilizando-o como parâmetro comparativo com os produtos “nacionais”.

Estamos falando, é claro, dos produtos mundiais que são sucesso internacional e chegam ao País já consagrados nos mercados mais exigentes do mundo. Esses gêneros, elite do varejo, estabelecem as bases para avaliarmos nossa própria produção e nos perguntar: Por que muitos de nossos produtos, apesar de terem qualidade, autenticidade e tradição, não conseguem receber um tratamento melhor em sua apresentação visual, sobretudo, levando em conta que tanto a indústria de embalagem instalada no País como as agências de design de que dispomos estão amplamente capacitadas a produzir embalagens de padrão internacional que nada ficam a dever ao que se faz pelo resto do mundo?

Para responder a esta pergunta, em primeiro lugar, é preciso lembrar que só recentemente, com a estabilização da economia, nossos produtos começaram a competir no mercado dentro dos mesmos padrões em que nossos concorrentes atuam a décadas, pois durante a fase da inflação mensal de dois dígitos, as empresas não podiam considerar seriamente outros fatores que não fossem relacionados à variação de preços de seus produtos.

Mesmo assim, a exemplo do que ocorreu com a propaganda brasileira, também o design evoluiu e hoje começa a ser reconhecido por seu alto padrão e passa a vencer os concursos internacionais.

Agora, a partir do novo cenário econômico, estes questionamentos se fazem pertinentes e abrem as perspectivas necessárias para uma discussão conceitual sobre o papel do design de embalagem na valorização de nossos produtos.

Todos sabemos que a embalagem é importante para a comercialização dos produtos, pois agrega valor e significado funcionando como expressão e atributo de seu conteúdo. Existe um movimento crescente de utilização do design e a consciência de sua necessidade vem ganhando corpo entre os empresários que atuam no segmento de consumo, mas algumas barreiras ainda precisam ser vencidas.

Precisamos levar a sério nossos produtos, temos que dar a eles embalagens condizentes com o atual estágio de desenvolvimento de nosso mercado e da nossa indústria.

É importante considerarmos que mesmo os produtos populares, destinados às classes C, D e F, merecem um tratamento adequado, pois ainda que sejam de baixa renda, essas classes são constituídas de “consumidores” que estão pagando para adquirir o produto. Esse público assiste televisão e está informado sobre os padrões internacionais do mundo moderno e tem acesso aos hipermercados nos quais são oferecidos os produtos de alto nível.

Ele vê as mercadorias e passa a ser “educado” na estética e no padrão mais elaborado, oferecido aos consumidores de maior poder aquisitivo. Esse público responde positivamente quando lhe oferecemos produtos que o respeite como consumidor e embalagens que traduza o sentimento de que ele merece produtos melhor embalados, mais atraentes e elaborados.

Não existem objetivos que impeçam os produtos populares de terem suas embalagens bem desenhadas, com visual bonito, que leve a sério o consumidor. Isto porque o custo de produção da embalagem não precisa ser necessariamente alterado por um bom trabalho de design e o custo de um projeto, realizado por uma agência de qualidade média, é perfeitamente assimilável mesmo por empresas pequenas espalhadas pelo interior do País.

O que há, na verdade, é um entrave na mentalidade empresarial que não considera válido investir num design para produtos destinados aos consumidores de baixa renda. Nossa experiência tem demonstrado exatamente o contrário: quando confrontado com produtos de embalagens de bom nível a preços que podem pagar, esses consumidores se sentem valorizados e adotam com entusiasmo os produtos que se lembraram de oferecer a eles um pouquinho mais do que preço baixo. Os empresários que se preocuparem com a qualidade da apresentação visual dos produtos que oferecem a seus consumidores, colherão os frutos da preferência popular.

Também nos produtos destinados ao mercado externo temos a grande oportunidade de posicionar nossos produtos de forma afirmativa, mostrando sua autenticidade, tradição e valor. Devemos evitar as abordagens exóticas e folclóricas, mas falar a linguagem da categoria em que o produto concorre. Precisamos apresentá-los como concorrentes “qualificados” que estão ali para conquistar posições.

Os designers comprometidos com a melhoria da qualidade de vida no País e outros profissionais da área devem se dedicar a dotar nossos produtos de embalagens que os valorizem, pois temos a obrigação de afirmar no desenho a autenticidade a alma do produto. Esta é uma forma de torná-los respeitáveis e muito mais competitivos.

O design é um valor genuíno que se incorpora ao produto e não apenas um acessório estético agradável. Podemos usá-lo para valorizar o Brasil por meio das embalagens de seus produtos. Isto é possível se os responsáveis pela condução de nossos produtos, desde os mais modestos aos mais sofisticados, tomarem consciência disto e adotarem uma nova atitude empresarial.

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