Ainda bem que as aparĂȘncias enganam

Apesar da padronização acerca do respeito e da qualidade quando se atende um cliente, percebe-se que ainda a aparĂȘncia determina o tipo de atendimento a ser oferecido. Conta-me um amigo, executivo do setor alimentĂ­cio, que o atendimento comercial Ă© sempre uma surpresa. Apesar da necessĂĄria padronização acerca do respeito e da qualidade quando se atende um cliente, o que se percebe, com freqĂŒĂȘncia, Ă© o amadorismo, alĂ©m das percepçÔes preconceituosas existentes, nas quais, as aparĂȘncias determinam bastante o tipo de atendimento a ser oferecido.

Todavia, ocorreu a esse diretor industrial um fato que derrubou, majestosamente, o paradigma de que a imagem é o que conta. Então, narrou-me a situação vivida numa véspera de Natal, num shopping center próximo a sua casa. Ele estava parado e absorto em seus pensamentos, em frente a uma vitrine de uma relojoaria, tentando imaginar para quem daria um relógio de presente.

Inesperadamente, uma vendedora dessa loja o abordou com muita simpatia, diferentemente do comĂ©rcio que o atendera mal hĂĄ pouco. Nas suas palavras: ?Veja que para essa vendedora nĂŁo tem bola perdida, pois eu estava trajando sandĂĄlias bem simples, bermuda, camiseta regata e com o cabelo de psicopata?. NĂŁo bastasse o seu senso de humor, o equilĂ­brio psicolĂłgico que lhe Ă© peculiar ainda definiu a circunstĂąncia com a seguinte frase: ?Em sĂŁ consciĂȘncia, que vendedora apostaria num cara nesses trajes dia 24 de dezembro Ă s trĂȘs horas da tarde? Aquela!?, enfatiza. O desfecho da histĂłria foi extasiante. Ele comprou cinco relĂłgios e os presenteou para os familiares.

Que lição se pode tirar desse acontecimento? O que estĂĄ por trĂĄs de cada cliente que se apresenta diante de nossas expectativas pessoais? Qual Ă© o nosso critĂ©rio de avaliação para agir de uma maneira ou de outra conforme os consumidores que nos chegam para pesquisar, comprar, ou simplesmente perguntar algo? E no papel de cliente, como nos sentimos diante de situação semelhante? O preconceito Ă© uma arma que, inevitavelmente, oferece perigo para quem estĂĄ na sua mira e para aquele que a empunha. Pode agredir a sua vĂ­tima moralmente, levando-a Ă  desistĂȘncia do consumo, e, conseqĂŒentemente, da compra que sustenta a vida comercial e tambĂ©m a perda do respectivo posto de trabalho. Esse processo em cadeira Ă© percebido tardiamente, quando o volume de clientes mal atendidos jĂĄ formou uma quantidade de consumidores insatisfeitos que nĂŁo retornam ao local que os causou mal-estar. Tal fato pode ocasionar a decadĂȘncia do empreendimento, salvo nos casos em que se percebe o nebuloso horizonte que se forma e, portanto, faz-se a troca urgente, seja ela do comportamento atravĂ©s de treinamento apropriado, seja do colaborador, que em alguns casos nĂŁo tem interesse na sua prĂłpria mudança. Nas palavras de Machado de Assis: ?Defeitos nĂŁo fazem mal quando hĂĄ vontade e poder de os corrigir?.

Não serå exagero lembrar da importùncia que tem o consumidor, tampouco que é precioso por sua condição natural: ser humano. O valor do bom atendimento abrange esse tipo de respeito na relação de compra e venda, além do valor financeiro nela presente. Os ganhos econÎmicos fazem parte desse cenårio mercadológico. Contudo, é prudente ressaltar a frase de Philipp Kotler: ?Lucro é subproduto das coisas bem-feitas?, para se traçar os limites entre causa e efeito, o que é atender bem e no que tal fator resulta.

Entender as novas competĂȘncias profissionais para se obter ĂȘxito no mercado das mudanças exigentes Ă© conciliar presente e futuro, traduzindo novas tendĂȘncias de consumo que se aproximam e atuar imediatamente na sua aplicabilidade em prol do cliente. Entretanto, tais decisĂ”es cabem Ă s pessoas, que a seu turno podem variar conforme o seu tipo. Assim, Ă© de se pensar profundamente na frase de Victor Hugo: ?O futuro tem muitos nomes. Para os fracos, Ă© o inatingĂ­vel. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes, a oportunidade?.

Em razĂŁo desses detalhes sutis Ă© momento de se debruçar sobre a questĂŁo da excelĂȘncia no atendimento e repensar alguns conceitos, sobretudo o das aparĂȘncias. Cada vez mais, Ă© merecida a preocupação acerca de como nos posicionamos frente aos consumidores, e o quanto de nossas erradas percepçÔes deve perder terreno em nossa maneira de pensar e agir.

Ainda bem que as aparĂȘncias enganam. Do contrĂĄrio, estarĂ­amos fadados ao fracasso resultante de nossas mentalidades preconceituosas. Todavia, contar com esse tipo de sorte pode ser arriscado em tempos de necessidade de acerto. Trabalhar com conhecimento e mĂ©todo adequados traz confiança e eficĂĄcia na vida profissional. Manter-se convicto de que as pessoas merecem respeito poupa esforços dobrados para as recuperar posteriormente, quando isso Ă© possĂ­vel.

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