Nepotismo corporativo

A prática de favorecimento em cargos, não por merecimento e conhecimento técnico, mas por parentesco com pessoas influentes, é cada vez mais comum dentro das empresas. Nas últimas semanas, a mídia brasileira vem debatendo, com grande repercussão, a prática do nepotismo. Até então, poucas pessoas sabiam sequer o que significa essa palavra. De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Toledo e associados em diversas capitais brasileiras, cerca de 30% das pessoas entrevistadas desconhecem o significado do termo.

Para quem não sabe, nepotismo é a contratação de parentes para cargos públicos. A expressão deriva da palavra nepos, que designa uma espécie de escorpião cujas crias se assentam sobre o dorso materno e vão, aos poucos, devorando-o. A prática é bem comum aqui no Brasil. Um levantamento realizado na Câmara apontou que 96 dos atuais deputados federais brasileiros possuem cônjuges contratados sem concurso público, o que significa dizer que um quarto da bancada de deputados pratica o nepotismo. Isso sem contar, irmãos, tios, primos e outros parentes.

Mas, deixando de lado o setor público, será que existe prática semelhante na iniciativa privada? Será que há um nepotismo corporativo?

A resposta é sim. Existe prática semelhante no mundo corporativo tão nociva quanto a realizada pelo setor público. Nociva especialmente aos clientes, pois serão eles que pagarão pelo favorecimento que muitos recebem ao estarem ocupando cargos não por merecimento e conhecimento técnico, mas sim por serem parentes ou amigos de pessoas influentes dentro das empresas.

Esse tipo de postura é tão comum que posso citar um exemplo que presenciei. Um gerente de tesouraria foi contratado por uma grande empresa, vindo de um concorrente. A contratação significava tanto aquisição de um excelente profissional, quanto a possibilidade de deixar a concorrência sem um grande técnico. Isso parecia ser algo realmente perfeito para a empresa, não fosse o fato de que o pacote de contratação contemplava a esposa do tesoureiro. Ela chegou à firma recebendo um salário maior que a gerente da unidade em que estava trabalhando. Isso sem contar outras regalias, como aluguel do apartamento pela empresa e um carro que ficava à sua disposição. Na unidade onde a ?senhora tesoureiro? foi trabalhar, a revolta foi grande, o nível de comprometimento e qualidade no atendimento aos clientes caiu e isso foi sentido de imediato. Como já dito, quem pagou por essa contratação foi o cliente.

Muitos devem estar questionando o profissionalismo que esses funcionários deixaram de ter diante de tal situação. Porém, como você se sentiria em trabalhar com uma pessoa que ganha mais que você, mesmo sabendo menos e, por causa disso, tem menores responsabilidades? Tudo isso porque é esposa do tesoureiro da empresa?

Discutir o nepotismo no poder público é vital, mas devemos também debater o nepotismo corporativo nas empresas em que trabalhamos. Deixar de lado o fato de se ter pessoas despreparadas ou incapazes de realizar as tarefas a elas confiadas, porque são parentes de alguém mais importante dentro da empresa é uma omissão, e o maior pecado que se pode cometer contra o ser humano é esse.

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