O próximo, por favor…

É assim o tempo todo, no banco, no supermercado, na panificadora, na agência lotérica, em todo o lugar que freqüentamos. Agora somos o próximo, não no sentido bíblico de ser, mas no sentido de sermos apenas mais um. É assim o tempo todo, no banco, no supermercado, na panificadora, na agência lotérica, em todo o lugar que freqüentamos.

Agora somos o próximo, não no sentido bíblico de ser, mas no sentido de sermos apenas mais um.

Que saudades do tempo em que saia com meu pai para cortar o cabelo.

Íamos ao centro da cidade lá na barbearia do “seu Leopoldo” e logo na entrada todos nos cumprimentando pelo nome. Perguntavam pela família como quem realmente se importa como vão as coisas.

Sentia-me ainda mais protegido rodeado pelos amigos de meu pai, eram os “amigos de barbearia”, assim como ele tinha os “amigos da repartição” onde ele trabalhava.

Com minha mãe não era diferente. Ela também tinha sua lista de amigas.

Quando ela me chamava, interrompendo meu jogo de futebol, já sabia que era para buscar alguma coisa no “armazém do alemão”. Lógico que sempre havia alguma reclamação do tipo, por que não manda o fulano? (me referindo a um de meus irmãos), mas isso é outra história. O interessante lembrar é que não perdíamos tempo, íamos logo pegando a “caderneta” e correndo para resolver a questão.
Chegando lá, pedíamos a farinha de trigo e o alemão já sabia qual era a marca preferida de minha mãe. Anotava no caderninho e pronto, eu já podia voltar para o meu futebol.

Éramos conhecidos pelo nome, e todos sabiam como gostávamos das coisas.
Como deveria ser o corte de cabelo ou a marca da farinha preferida.

O que mudou de lá para cá?

Muita coisa, meus cabelos já estão brancos, a cidade cresceu, e no local onde estava o armazém do alemão hoje passa uma avenida que tem até um hipermercado bem próximo.

A outra mudança eu sinto quando vou a esse hipermercado comprar a farinha de trigo ou outro item qualquer.

A primeira mudança está no fato de que agora com certeza o jogo de futebol estaria perdido, pois tenho que procurar nas prateleiras a marca de farinha preferida, entrar na fila do caixa, ouvir o tradicional próximo, ter que pagar à vista ou com cheque sem poder usar a cadernetinha. E ainda sentir que as pessoas que estão me atendendo, por mais educadas que sejam, não estão nem um pouco interessadas em mim ou em minha família. (alguém saberia dizer em que estão interessados?).

Lógico que seria inviável atendermos a toda essa população na base da cadernetinha, ou saber a farinha preferida de cada um ou conhecer todas as suas preferências.

Será?

Confesso que me sentia melhor quando as pessoas perguntavam como eu estava e realmente se importavam com isso, e principalmente quando não era chamado de “próximo” e sim pelo nome.

Se uma empresa quiser me conquistar como cliente, posso garantir que essa é a grande dica.

Tratem-me como sendo único e importante, me conheçam, saibam do que eu gosto, sejam ágeis e sinceros.

Mas como fazer isso se você tem centenas de clientes para atender?

Quem sabe ao contrário de montar um hipermercado para atender a toda a nova população não seria mais interessante termos vários “armazéns do alemão”?

Mesmo assim estaríamos atendendo a toda a população.

Notem que não é uma crítica a esses estabelecimentos, é apenas um sentimento exposto.

Sentimento de “abandono”, como se sentir apenas… mais um entre tantos.

O incentivo ao micro e pequeno empresário pode ser a grande saída para o problema do desemprego no país, assim como uma maior chance de encantar o cliente por meio de um atendimento personalizado, evitando tantas reclamações e ao mesmo tempo fidelizando-os.

Existem outras tantas fórmulas, basta iniciativa e principalmente colaboração de todos.

Os pequenos empresários já devem ter notado que o ideal não é imitar as grandes empresas, pelo contrário, empresa grande que quiser conquistar e manter os clientes terá, cada vez mais, que buscar o “estilo” do Seu Leopoldo e do Armazém do Alemão.

É como o médico de família, sistema de atendimento que já retornou a funcionar em diversas cidades.

O médico conhece e atende a toda a família, tratando-os pelo nome, visitando-os em sua residência de tempos em tempos, conhecendo suas dificuldades e, quando necessário, encaminhando-os ao especialista (isso se realmente necessário).

Chega de ficar esperando horas no consultório pelo médico que normalmente se atrasa e ainda ter que ficar lendo aquelas revistas antigas.

É como produzir e distribuir produtos em embalagens pequenas para pessoas que moram sozinhas ou uma família pequena.

É como prestar um serviço diferenciado, a domicílio, para pessoas idosas ou em condições especiais (lembram do afiador de facas que passava em sua rua?).

O empresário deverá conhecer pessoalmente seu cliente, seu produto preferido além de sua forma de pensar e seu potencial de compra.

Só assim terá clientes de caderninho (está aí a origem da expressão?).

O importante é não nos conformarmos com o que o mercado nos oferece, e sim continuarmos na expectativa que, de tanto recusarmos ou reclamarmos, um dia o sistema “Armazém do Alemão” volte a funcionar.

Mas, enquanto isso não acontece.

O próximo, por favor…

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