Trabalhar para ou na sua empresa?

Para dar certo, uma empresa precisa funcionar dentro de uma gestão técnica e planejada que dispense a intervenção do empresário em todos os departamentos. Estudos da London Business School apontam para um dado que muitos brasileiros ainda não conhecem. Temos um empreendedor para cada oito habitantes, em contrapartida com dez, nos Estados Unidos. No Brasil, o número de pessoas que abriu negócio próprio cresceu de 18 milhões para 23 milhões, de 1999 a 2003, período em que o número de assalariados ficou estabilizado em 18 milhões.

Entretanto, estamos entre os países que maiores entraves apresentam para a criação e crescimento de novas empresas. Pesquisas do Banco Mundial mostram que os empecilhos ao empreendedorismo no País começam pelo excesso de burocracia: ocupamos a 73ª posição entre 78 países. Aqui, são necessários 152 dias para abrir uma empresa, na Austrália dois dias, nos Estados Unidos quatro dias. A complexidade das leis trabalhistas é outro problema. Dentre 133 nações, nossa colocação no ranking brasileiro é 78° lugar.

Se analisarmos esses números frente a todos esses problemas, encontraremos muitas das explicações para as estatísticas do Sebrae quanto à mortalidade das empresas no País: 31% no primeiro ano de vida e 60% até os cinco anos. Levando-se em conta que, nos Estados Unidos, 80% das novas empresas perecem ao final de cinco anos, podemos concluir que somos um país de empreendedores por vocação e teimosos, mais por contingência do que por otimismo.

Por que, apesar de tudo, tantos decidem entrar no mundo dos negócios, quase que sem apoio e muitas vezes sem preparo? O que aprendem nesse caminho? Qual o diferencial que determina o sucesso e o fracasso de cada empreendedor? Por que a sociedade não se mobiliza no sentido de criar regras mais flexíveis que possibilitem a criação e apoio a empresas, que significam fonte de empregos e divisas?

O que leva uma pessoa a ser empresário é a sua insatisfação com o que está fazendo naquele momento. O desejo de independência se torna sua companhia constante e a idéia de fazer o que quer, vestindo a própria camisa se torna obsessivamente irresistível. É o que se chama de ?surto empreendedor?.

Só que, de repente, ele percebe que está fazendo não só o que se sabe, mas principalmente o que não sabe. Está operando, comprando, vendendo e enviando. O empresário se torna o malabarista que mantém todas as bolas no ar. Esta é a infância do negócio. Uma fase muito fácil de reconhecer quando o proprietário e o negócio se fundem ou confundem numa única personalidade. A partir desse estágio, a empresa acaba desenvolvendo uma série de outras fases, cada uma trazendo mais problemas, até sua morte eventual, muitas vezes, sem sequer ter chegado à adolescência.

Para dar certo, uma empresa precisa atuar com uma perspectiva mais ampla, que é a de construir um negócio que funcione não por causa do empresário, mas dentro de uma gestão técnica e planejada que dispense sua intervenção direta em todos os departamentos. Isso só se consegue com capacitação.

O empreendedor tem de aprender a separar sua vida do seu negócio. O negócio tem regras próprias e morre se o proprietário deixar de fazer a única coisa realmente importante, que é criar, manter clientes e os mecanismos internos organizados. A idéia é desenvolver uma empresa com o formato de uma franquia, uma empresa que será multiplicada a partir de uma unidade piloto, protótipo, e operada por pessoas independentes. Aí então o empreendedor brasileiro vai entender que o segredo do sucesso é trabalhar para a sua empresa, ao invés de trabalhar nela.

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